(ANSA) - Em meio a um escândalo de corrupção que abala o Parlamento Europeu, a presidente do órgão, Roberta Metsola, anunciou nesta quinta-feira (15) que será feita uma grande reforma para evitar que esse tipo de crise ocorra novamente.
"A partir de hoje, estou trabalhando em um amplo pacote de reformas, que ficará pronto no início do ano. Vai incluir o fortalecimento dos sistemas de proteção de denunciantes", disse a líder.
A crise provocada na instituição foi iniciada no último dia 9 de dezembro, quando uma operação da polícia da Bélgica cumpriu 16 mandados de busca e apreensão e determinou a prisão de várias pessoas por um suposto envolvimento no recebimento de suborno de líderes "de um país do Golfo" para votar medidas favoráveis.
Apesar de negar publicamente, essa nação seria o Catar.
Entre os detidos naquele dia, estavam a vice-presidente do PE, Eva Kaili, destituída de todos os seus cargos e suspensa das funções no dia 13, e três italianos: o assessor do grupo Socialistas & Democratas (S&D) e companheiro de Kaili, Francesco Giorgi, o ex-eurodeputado italiano Antonio Panzeri e o diretor da ONG No Peace Without Justice, Niccolò Figa-Talamanca. Os três primeiros continuam detidos.
Além dos presos, diversos assessores parlamentares estão sendo investigados por sua atuação em prol do Catar. Por isso, Metsola também pediu uma "revisão sobre tudo que foi votado e no que estamos trabalhando" que envolve o país árabe.
Já sobre o acordo sobre aviação entre UE e Catar, firmado em outubro de 2021, será preciso aguardar os Parlamentos dos 27 Estados-membros analisarem o documento "para darmos o consenso".
Para além das decisões da presidente, o plenário do PE aprovou, por 541 votos a favor, dois contrários e três abstenções, um texto que pede a suspensão imediata de todos os trabalhos legislativos referentes ao Catar.
O documento ainda determina a suspensão do acesso dos representantes do país do Golfo à sede da instituição em Bruxelas "até quando as investigações judiciais" estiverem em andamento.
"As acusações que envolvem o Parlamento Europeu são um golpe contra a democracia e a tudo que trabalhamos por muitos anos. É preciso anos para construir a confiança, mas só um momento para destruí-la. Farei todo o possível para retomar a posição dessa Casa da democracia, de legisladores, de instituição que toma decisões limpas e transparentes e que não está à venda para atores estrangeiros", pontuou ainda Metsola.
Também nesta quinta, a procuradora europeia, Laura Kovesi, pediu formalmente a revogação da imunidade de Kaili por suspeita de fraude e danos ao Orçamento da União Europeia, em relação à gestão da identidade parlamentar, e, em particular, sobre o pagamento de salários de assistentes parlamentares.
Italiano teria confessado
O jornal belga "Le Soir", o primeiro a publicar sobre a investigação policial, afirmou que o companheiro de Kaili teria confessado às autoridades que teria recebido dinheiro do Marrocos e do Catar.
Segundo as fontes relataram à publicação, Giorgi seria o responsável por gerir o dinheiro vivo recebido de ambos. Ele ainda teria indicado "que suspeitava" que os eurodeputados do S&D Andrea Cozzolino e Marc Tarabella estavam no esquema, mas recebiam dinheiro de Panzeri.
Já a defesa de Kaili nega as acusações e diz que ela era inocente "apenas estando na residência onde o dinheiro foi encontrado". A polícia teria encontrado cerca de 1,5 milhão nas casas da eurodeputada grega e de Panzeri.
O Marrocos estaria envolvido no caso por meio de seu serviço de informação externa, a DGED. Conforme o jornal, Panzeri, Cozzolino e Giorgi estariam em contado direto com a agência e com o embaixador marroquino na Polônia, Abderrahim Atmoun.
Tanto Cozzolino quanto Tarabella, que tem imunidade parlamentar, já declararam publicamente que são estranhos às denúncias.
Emirados Árabes Unidos
O jornal italiano "Corriere della Sera" publicou nesta quinta-feira que as primeiras denúncias sobre o esquema de corrupção teriam sido enviadas pelos Emirados Árabes Unidos às agências de Inteligência da Bélgica. Membros do governo teriam trabalhado por meses também com os serviços secretos de outros cinco países europeus.
Conforme o jornal, a denúncia levou os membros da Inteligência até "um centro de estudos do Marrocos em Bruxelas que escondia uma central de espionagem".
"Os serviços belgas apuraram que o centro cultural tinha ligações com o embaixador marroquino na Polônia, Abderrahim Atmoun, que nos documentos de investigação é citado como aquele em que Panzeri precisava confiar os seus presentes para que fossem transferidos para Marrocos", acrescenta.
Meloni se manifesta
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, se manifestou sobre a crise no Parlamento Europeu durante sua ida a Bruxelas para participar da reunião de líderes do Conselho Europeu.
"O cenário é preocupante. As notícias que estão saindo contam coisas que jamais imaginaríamos e, perante a esse tipo de situação, é preciso ir até o fundo, sem dar descontos, porque está em jogo a credibilidade da União Europeia e das nossas nações. Nós pedimos que seja esclarecido o que está acontecendo", ressaltou dizendo que os detalhes são "devastadores".
De acordo com fontes europeias, durante os encontros desta quinta, os líderes europeus "manifestaram plena confiança na investigação judiciária e pleno apoio e confiança à presidente Metsola em adotar os passos necessários para melhorar e proteger o funcionamento do Parlamento Europeu".
Ainda segundo esses representantes, há bastante "satisfação" com a forma rápida que o PE respondeu à crise. (ANSA).