Cultura

Tragédia de travesti brasileira vira peça de teatro na Itália

Fernanda Farias de Albuquerque teve vida de sofrimento

Redazione Ansa

(ANSA) - A trágica história de vida de uma travesti brasileira virou peça de teatro na Itália.

O espetáculo "Princesa" é dirigido por Fabrizio Coniglio e traz Vladimir Luxuria, célebre ativista, atriz e dramaturga transgênero italiana, no papel de Fernanda Farias de Albuquerque (1963-2000), paraibana que teve sua vida intimamente ligada à Itália.

Nascida no interior da Paraíba, Fernanda se via como garota desde pequena, mas foi vítima de abusos sexuais na infância e fugiu de casa. Aos 18 anos, começou a se prostituir nas ruas de metrópoles como São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro, adotando o nome "Princesa".

No fim da década de 1980, se mudou para a Europa e, após passagens por Portugal e Espanha, chegou à Itália, onde também era garota de programa nas ruas de Milão e Roma e se tornou dependente de heroína.

Após esfaquear um homem, foi condenada a seis anos de prisão e enviada à penitenciária de Rebibbia, em Roma, onde descobriu ser soropositiva e começou a escrever sua autobiografia com a ajuda do ex-integrante das Brigadas Vermelhas Maurizio Iannelli, que conhecera na cadeia. Em 1994, lançou o livro "Princesa", que inspiraria uma canção homônima de Fabrizio De André, ícone da música italiana, no álbum "Anime salve" ("Almas salvas").

"Estava escrito nas estrelas. Quando ainda vivia em Pigneto [bairro periférico de Roma], conheci Iannelli em um restaurante, e ele me presenteou com o livro, que me comoveu muitíssimo", diz Luxuria em entrevista à ANSA.

"Eu tive muita sorte na vida, mas se as coisas tivessem sido diferentes, se eu tivesse tomado decisões diversas, eu poderia ter tido um destino muito parecido com o de Fernanda", acrescenta a atriz, que estreia no papel da travesti brasileira no Festival Teatral de Borgio Verezzi, em 26 de julho.

Em seguida, a peça será encenada no Teatro Tor Bella Monaca, em Roma, em 5 de agosto, para depois partir em turnê. Fernanda se suicidou em 2000, com apenas 37 anos de idade, mas sua história continua atual.

"Penso nas pessoas trans que são perseguidas no mundo", afirma Luxuria, citando os casos de Rússia e Hungria, que aprovaram leis contra a mudança de sexo. "Elas não poderão realizar o sonho de ser aquilo que sempre sentiram ser. Acho que é uma verdadeira declaração de guerra", acrescenta a atriz.

Segundo Luxuria, Fernanda sonhava com o amor, mas encontrou apenas "exploradores e pessoas que não tinham coragem de admitir os próprios sentimentos". "Nesse sentido, me sinto um pouco espelhada, pensando naqueles homens que, quando percebem um envolvimento emocional, desaparecem porque não têm coragem", diz. (ANSA)

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