(ANSA) - Por Francesca Pierleoni - Em 2018, uma área de cerca de 630 mil hectares de floresta virgem na Amazônia foi reconhecida como Reserva Extrativista Baixo Rio Branco-Jauaperi, emblema de biodiversidade, proteção do território e luta contra as mudanças climáticas.
Um resultado que teve como um dos maiores responsáveis Christopher Clark, ecoativista escocês, que morreu em 2020 vítima de um tumor com apenas 59 anos de idade, que dedicou grande parte da vida à defesa da Amazônia e principalmente à comunidade Xixuaú.
Ele foi retratado pelo cineasta Edoardo Morabito, no documentário "L'avamposto" (O posto avançado, em tradução livre), que estreia no Festival Internacional de Cinema de Veneza, na mostra paralela Jornada dos Autores, e depois será distribuída pela Luce Cinecittà.
O filme (produzido pela Dugong Films com Rai Cinema, filmado sobretudo antes da criação da Reserva, pela qual Clark lutava há mais de 20 anos) conta o último grande sonho do ativista: relançar o interesse global sobre a Amazônia e pressionar o governo brasileiro, organizando na floresta um show do Pink Floyd (porque conhecia pessoalmente o guitarrista David Gilmour).
"A amizade com Christopher nasceu quase imediatamente.
Estávamos muito em sintonia, os dois um pouco loucos. Tínhamos uma experiência cultural similar, apesar da diferença de idade, e uma comunhão do pensamento a respeito do mundo", disse Morabito à ANSA.
"Ele era um personagem extraordinário. Percorreu o mundo, era um grande intelectual, filho de um editor de livros para crianças, poliglota, ganhou dinheiro como empreendedor na Toscana restaurando casas e vendendo aos ingleses.
Depois cansou do dinheiro que ganhou, e dedicou toda a sua vida e seus recursos à Amazônia", acrescentou.
Clark conseguiu criar na Amazônia, mais de duas décadas antes, uma vila no Xixuaú, que via como um modelo de sociedade utópica baseado no equilíbrio perfeito entre natureza e tecnologia, com ajuda de uma comunidade de "caboclos", que transformou em guardiões da floresta.
Também buscou torná-los financeiramente autônomos, através do trabalho com o ecoturismo.
O sonho da comunidade na floresta começou a desabar, mas Clark nunca desistiu de lutar, inclusive através do show da banda britânica.
"Ele falava do sonho do Pink Floyd ao vivo até às filhas, quando nasceram. Era uma de suas tantas ideias, a que acompanhei porque permitia contar também determinadas contradições. É um forte símbolo de um modo de ser idealista, mas ele também era concreto, realidade que fica clara pelo fato de ter obtido o reconhecimento da reserva", disse o diretor.
No filme, com uma extraordinária trilha sonora de Vincenzo Gangi e Masmas que homenageia o Pink Floyd, acompanhamos Clark em suas tentativas de superar o maior obstáculo ao show: as más relações entre Gilmour e o vocalista Roger Waters.
"Chris era um grande artista no fundo, um performer. Lutar pelo show era um modo de atrair atenção para a floresta amazônica. Como todo grande artista, também me usou para contar essa história em que gostaria de acreditar. É um jogo de espelhos", disse o cineasta.
Morabito, que acompanhou Clark desde 2016, mostra sua força e também suas fragilidades: "Mostro como homem, capaz de fazer coisas extraordinárias e sempre em sintonia com o povo do lugar.
Como acontece nos romances, soube da reserva pouco antes de morrer. Ele se identificou em sua missão, seu desejo". (ANSA).