(ANSA) - Por Lucas Rizzi - Um roteiro deixado pelo cineasta italiano Michelangelo Antonioni, morto em 2007, aos 94 anos, sairá do papel pelas mãos do diretor brasileiro André Ristum, em uma história que vai da Sardenha à Amazônia.
O script de "Tecnicamente Doce" foi escrito por Antonioni no fim dos anos 1960, antes do clássico "Profissão: Repórter", e fala sobre a relação abusiva do ser humano com a natureza, tema cada vez mais em voga devido à crise climática no planeta.
Em entrevista à ANSA, Ristum conta que já ouviu de Enrica Antonioni, viúva do cineasta, que esse roteiro foi "o que ele mais quis fazer". "Antonioni chegou a realizar viagens de pré-produção e a ver locações na Amazônia brasileira e peruana, mas, devido a dificuldades técnicas na época, o produtor Carlo Ponti não conseguiu encarar", diz.
O diretor italiano desistiu de gravar o filme em meados dos anos 1970 e, pouco depois, conheceu o pai de Ristum, o jornalista Jirges Ristum, que vivia como exilado da ditadura militar no Reino Unido e depois na Itália.
Jirges se tornou assistente e amigo pessoal de Antonioni, que ofereceu a ele o roteiro de "Tecnicamente Doce" para ser seu primeiro longa. O jornalista voltou ao Brasil nos anos 1980, depois da anistia, para tentar colocar o projeto de pé, mas foi diagnosticado com leucemia e morreu em 1984, quando seu filho tinha 12 anos de idade.
"Quando decidi trabalhar com cinema, eu disse: 'Um dia vou ter a cara de pau de bater na casa do Antonioni e pedir para filmar esse roteiro", conta o cineasta.
Ristum cultivou essa ideia enquanto amadurecia na carreira, mas o sonho só começaria a se tornar realidade 10 anos após a morte de Antonioni. Decidido a gravar "Tecnicamente Doce", o diretor procurou Enrica, contou toda a história e propôs finalmente levar o roteiro para as telonas. "Ela falou que tinha um carinho especial por esse roteiro, já tinham pedido para comprar e ela nunca tinha cedido, mas naquele dia ela sentiu que esse roteiro iria sair do papel", afirma o cineasta.
As dificuldades de financiamento para o cinema durante o governo Bolsonaro atrasaram o projeto, mas as portas se reabriram em 2023, e a ideia de Ristum é filmar entre o fim de 2024 e o início de 2025, como uma coprodução entre Brasil e Itália e com a participação de Enrica Antonioni como associada.
Pelo lado brasileiro, os produtores são Caio Gullane, Fabiano Gullane e André Novis, da Gullane Entretenimento, e pelo italiano, Marta Donzelli e Gregorio Paonessa, da Vivo Film.
"Hoje acho que estou no momento ideal para abraçar essa história", conta Ristum, que reconhece o "grande desafio" de encarar um material deixado por um dos gênios do cinema italiano.
O diretor brasileiro, que já foi assistente de outro peso pesado da sétima arte, Bernardo Bertolucci, teve acesso a um farto material de anotações sobre como Antonioni enxergava a história, mas garante que a produção terá uma "visão autoral". "Estou sendo guiado pelo Michelangelo, mas é um filme do André Ristum", diz.
Em breve, os cinéfilos poderão sentir um gostinho do que está por vir, com a leitura do roteiro de "Tecnicamente Doce" na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que acontece entre 19 de outubro e 1º de novembro e, neste ano, exibirá uma retrospectiva dedicada a Antonioni.
A história original se passa nos anos 1960, na Sardenha, que começava a conviver com a profusão de empreendimentos imobiliários na Costa Esmeralda. Nesse cenário em que o ser humano subjuga a natureza, dois personagens italianos viajam à Amazônia, onde o meio ambiente ainda prevalecia sobre o homem.
O trio de protagonistas é completado por uma personagem brasileira, porém o script passou por adaptações para torná-lo mais atual. "Esse novo tratamento do roteiro é totalmente inédito. É a primeira vez que ele vai ter contato com um público maior", afirma Ristum, que define Antonioni como um "visionário" por antecipar o futuro nas relações do ser humano com natureza. (ANSA)
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