Há mais de um século, milhares de italianos vieram ao Brasil para trabalhar em lavouras de café do Sudeste. E hoje, 150 anos após o início dessa imigração em massa, cabe a uma ítalo-descendente a tarefa de produzir um dos grãos mais premiados do país.
Daniella Romano Pelosini comanda o Sítio Daniella, em Pardinho, a 220 km de São Paulo, e fornece há quase uma década para a empresa italiana illycaffè, sua única cliente no exterior. "Tirando a illy, meu café fica todo no Brasil. Eu quero que o brasileiro tome café, não tenho radar de exportação", contou a cafeicultora durante uma visita de jornalistas à sua fazenda de 55 hectares, que abrigam mais de 200 mil pés de café e geram de 1,5 mil a 2 mil sacas por ano.
Parte dessa produção - entre 100 e 120 sacas anualmente - é destinada à illy, que compra em solo brasileiro mais da metade dos grãos utilizados em seu blend.
A relação entre o sítio e a marca de Trieste começou há cerca de uma década, quando Daniella conheceu Aldir Alves Teixeira, guru da empresa italiana quando o assunto é qualidade, durante uma edição da Semana Internacional do Café. "Fomos no estande da illy e levamos uma amostra. O doutor Aldir olhou e falou: 'Eu quero seu café no ano que vem'", contou ela.
Mas a parceria não foi imediata: Daniella caprichou no café e enviou uma amostra para a illy no ano seguinte, porém o grão acabou rejeitado por excesso de umidade. A cafeicultora ficou "bem brava" com a recusa, mas aceitou e voltou à carga um ano depois. O resultado foi a primeira colocação em São Paulo e a segunda no Brasil no 25º Prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável do Café para Espresso, em 2016.
Desde então, o sítio é presença frequente entre os melhores do país na premiação. "Ganhar o prêmio é fácil, o difícil é repetir o resultado", afirmou Daniella, descendente de italianos de Nápoles (Romano) e Lucca (Pelosini) - em seu primeiro encontro com o presidente Andrea Illy, ela serviu um prato tipicamente 'made in Italy': polenta com frango.
Estabelecida no panteão dos cafeicultores brasileiros, Daniella enfrenta agora o desafio da crise climática, que já tem colocado em risco áreas cultiváveis mundo afora. "Para quem ainda fala alguma coisa do aquecimento global, nossa colheita, antes de ser mecanizada, começava em agosto; aí passou a ser em julho com a mecanização e, neste ano, nós começamos em 27 de maio. Não está mudando?", questionou.
Diante desse cenário, a fazenda aposta na agricultura regenerativa, bandeira de Andrea Illy e que promove a recuperação do solo e do meio ambiente ao redor para garantir sua viabilidade em longo prazo.
Daniella prevê inclusive implantar ruas de árvores em meio ao plantio a partir de dezembro para diversificar o ecossistema local. "Quero ser um modelo na região para levar isso para outras fazendas", explicou.
O sítio também é autossuficiente em energia graças a painéis fotovoltaicos e repassa o excedente para a rede, além de usar agroquímicos "de forma bem cuidadosa" para se alinhar com os preceitos da agricultura regenerativa. (ANSA)