(ANSA) - Por Alejandro Di Giacomo - O programa "Futebol para Todos", estabelecido durante o governo de Cristina Kirchner e endossado pelo ex-jogador Diego Maradona, vai a julgamento a partir do dia 24 de abril, quando um tribunal começará a determinar se foi cometido algum crime no projeto com a injeção de recursos públicos para garantir a transmissão televisiva de jogos da primeira divisão sem custo para os usuários.
Os juízes precisarão estabelecer se o episódio se tratou de uma política de Estado ou de uma ferramenta para gerar propaganda política, e mesmo se houve má gestão de fundos estatais.
O tribunal será agitado justamente no período em que o ultraliberal Javier Milei está na presidência da Argentina, que promove uma cruzada anti-Estado e acusa sistematicamente "a casta política" de corrupção.
Assim, não há dúvida de que o "Futebol para Todos" será a nova bandeira dessa batalha dentro de alguns meses. Ao todo, 15 anos se passaram desde 20 de agosto de 2009, quando a então mandatária argentina, junto com o falecido Maradona e o líder da Associação do Futebol Argentino (AFA) e então vice-presidente da Fifa, o também falecido Julio Grondona, anunciou a apresentação do acordo.
No julgamento, entre os muitos réus, estarão os ex-chefes de gabinete Aníbal Fernández e Jorge Milton Capitanich. O primeiro é acusado de administração fraudulenta e violação de deveres de funcionário público, e o segundo é invetigado por ter supostamente cometido o último crime, conforme detalhes do portal IProfesional.
No total, serão 16 réus em julgamento, já que a lista também inclui Gabriel Mariotto, ex-coordenador do programa Futebol para Todos, e Sergio Marchi, do sindicato dos jogadores de futebol. São 215 testemunhas que serão convocadas, o que promete uma árdua batalha judicial.
O objetivo do programa era fortalecer economicamente os clubes argentinos, que não passavam por um bom momento financeiro, com dívidas de milhares de pesos, mas suspeita-se que tenham sido desviados esses recursos públicos, que no total entre 2009 e 2016 foram de 10 bilhões pesos (cerca de 1,2 bilhão de dólares ao câmbio da época).
Uma primeira decisão rejeitou as participações de Aníbal Fernández e Capitanich, mas o tribunal de Buenos Aires não acatou o recurso e eles continuam sendo acusados de não terem controlado adequadamente o destino dos fundos do programa.
Desde 1991, a empresa Codified Satellite Television (TSC), composta por partes iguais do Grupo Clarín e Torneos y Competencias, era a proprietária dos direitos de transmissão televisiva da elite do Campeonato Argentino.
A maior parte dos jogos foi transmitida pelo sinal a cabo TyC Sports, enquanto os jogos mais importantes foram passados pelo sistema de televisão codificada pay-per-view, através do sinal TyC Max. As imagens gravadas das partidas não poderiam ser transmitidas por outros sinais até a transmissão do programa Fútbol de Primera nas noite de domingo.
No final da edição de 2009 do Clausura de 2009, último transmitido pela TyC, vários clubes enfrentaram uma grave crise econômica que colocou em risco inclusive o início do próximo campeonato. Por este motivo, a AFA solicitou ao TyC o adiantamento de um pagamento de 720 milhões de pesos pelos direitos da temporada 2009/10, para auxiliar as equipes.
No entanto, a empresa, que já tinha pago 230 milhões à AFA, rejeitou liminarmente o pedido. Isso deu origem à criação surpreendente do programa "Futebol para Todos", que aniquilou o "pagar para ver", até ser restabelecido durante a presidência de Mauricio Macri (2015-2019). Este sistema de pagamento em transmissões codificadas - como em quase todo o mundo - é o que está novamente em vigor na Argentina. (ANSA).