(ANSA) - As medalhas olímpicas obtidas por atletas italianos multiétnicos, como br/brasil/noticias/esporte/2024/08/13/mural-em-homenagem-a-egonu-e-vandalizado-na-italia_6456e8f7-b497-462c-a67e-f643a28841b6.html" rel="noopener">Paola Egonu, maior estrela da seleção "azzurra" de vôlei feminino, reacenderam o debate político sobre o "jus soli" ("direito de solo"), ou seja, a concessão de cidadania para filhos de imigrantes nascidos no país.
Atualmente, pessoas que nasceram em solo italiano de genitores estrangeiros só podem obter a cidadania ao completar a maioridade, e desde que tenham residido de forma ininterrupta no país europeu, realidade comum a muitos atletas que defenderam a bandeira tricolor nas Olimpíadas de Paris.
Egonu, por exemplo, nasceu em Cittadella, no Vêneto, filha de pais nigerianos e sempre morou na Itália, mas só foi reconhecida como cidadã italiana aos 16 anos, após seu genitor ter obtido o passaporte. Se seu pai não tivesse conseguido a dupla nacionalidade, ela teria de esperar até os 18.
Hoje, Egonu é uma das melhores jogadores de vôlei do mundo e foi o principal nome na campanha do ouro inédito da Itália nos Jogos Olímpicos de 2024, mas isso não a impede de ser vista como estrangeira por grupos xenófobos - prova disso é o mural vandalizado com tinta rosa sobre sua pele negra.
"Quem nasce ou cresce na Itália é italiano ou italiana e continuaremos lutando para mudar a lei", disse a líder da legenda de centro-esquerda Partido Democrático (PD), Elly Schlein.
"As Olimpíadas retrataram uma Itália feita de estrangeiros de segunda geração, seria importante perceber isso", reforçou o deputado Riccardo Magi, do partido de centro Mais Europa, que coleta assinaturas para um referendo em prol do jus soli.
A coalizão de direita que governa o país, no entanto, é contra a concessão de cidadania por direito de solo. "É uma medida que incentivaria as chegadas clandestinas", declarou o senador Pierantonio Zanettin, do partido conservador Força Itália (FI). "A legislação sobre cidadania está ótima assim. Não precisamos de jus soli ou de atalhos", reforçou a legenda de direita Liga.
Um compromisso poderia se dar em torno do chamado "jus scholae" ("direito escolar"), que beneficiaria filhos de imigrantes nascidos na Itália e com pelo menos 10 anos concluídos no sistema de ensino do país, mas o tema não está na agenda do governo da premiê Giorgia Meloni.
O próprio presidente da Itália, Sergio Mattarella, em sua visita ao Brasil em meados de julho, mandou um recado ao destacar a "mistura de etnias" que caracterizava o Império Romano e elogiar a "lição de civilização" dada pelo maior país da América Latina ao "tornar cidadãs pessoas de tantas partes do mundo". (ANSA).
Olimpíadas reacendem debate sobre cidadania na Itália
Partidos usam história de Egonu para cobrar 'jus soli'