(ANSA) - Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu. O ex-sindicalista derrotou por pouco seu adversário, Jair Bolsonaro, e será presidente do Brasil novamente, naquilo que comentaristas definem como uma "vitória histórica".
Mas o país sai das urnas dividido e exausto após uma campanha eleitoral de dois meses, a mais polarizada desde a redemocratização. Até o fim, foi uma disputa pelo último voto, marcada pelo caos no transporte público, com muitos eleitores de várias cidades sem acesso gratuito, com risco de efeitos sobre a abstenção.
Com 99,99% das seções totalizadas, Lula tem 50,90% dos votos, contra 49,10% de Bolsonaro. "É uma vitória da democracia", comemorou o líder de esquerda.
Nos dois meses em que percorreu o Brasil de norte a sul, o ex-operário que se tornou presidente não perdeu ocasiões para pedir um modelo progressista para o país, para restitui-lo à órbita das relações internacionais, para reacender a atenção sobre os famintos e para frear o extermínio dos indígenas e o desmantelamento da Amazônia.
Uma vingança para Lula, após ter sido condenado pela Lava Jato, que o colocou na cadeia por 18 meses. E um recorde negativo para Bolsonaro, o único presidente a fracassar na tentativa de reeleição, em um inédito combate entre um ex e um atual chefe de Estado.
A partir de 1º de janeiro (data do início do novo mandato) caberá a Lula pacificar o país, onde o bolsonarismo já atingiu os gânglios da sociedade, mas os dois meses de transição a partir de agora não serão fáceis.
Vista a margem pequena de votos, o risco e o temor de muitos é que o presidente que está deixando o cargo possa contestar o resultado eleitoral, ou ainda jogar gasolina no fogo, incendiando as praças, em uma reedição do que já foi visto com Donald Trump e a multidão que invadiu o Capitólio em Washington em janeiro de 2021.
Por outro lado, não seria a primeira vez no país que os resultados eleitorais são questionados. Aconteceu também com Dilma Rousseff, companheira de partido de Lula, em outubro de 2014, quando o seu adversário Aécio Neves (PSDB) contestou a sua vitória no segundo turno, alongando a suspeição de fraudes e manipulações.
O ex-capitão do Exército nos dois meses de campanha eleitoral atacou sem tréguas o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e seu presidente, o ministro Alexandre de Moraes, colocando em dúvidas a transparência e a legitimidade do órgão democrático.
Mas, não acaba aqui. No período de transição, o presidente que perdeu o pleito pode firmar medidas provisórias, que têm efeito imediato após a publicação no Diário Oficial da União (DOU), para mudar, por exemplo, a liberação na venda de armas, aumentando assim o risco de violência política.
Todas as preocupações, no entanto, não afetam as celebrações dos apoiadores de Lula, para aquela que o New York Times e os observadores políticos definiram como uma vitória para a Amazônia devastada, para os povos indígenas humilhados, para as faixas mais pobres, e para todos aqueles que nos quatro anos do governo Bolsonaro nunca se identificaram com seu projeto baseado no lema "Deus, pátria e família".
E rapidamente começaram as felicitações dos líderes da América Latina, do colombiano Gustavo Petro ao argentino Alberto Fernández, assim como saudaram com alegria o retorno de Lula o francês Emmanuel Macron e o espanhol Pedro Sánchez.
"Trabalharemos juntos para continuar com a cooperação entre os nossos dois países nos próximos meses e anos", afirmou ainda o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. (ANSA).