Política

Morte de juiz Borsellino não foi só obra da Cosa Nostra, diz Itália

Motivação de sentença contra policiais fala em pessoas estranhas

Atentado matou Paolo Borsellino e outros cinco agentes em 19 de julho de 1992

Redazione Ansa

(ANSA) - Foram divulgadas nesta quinta-feira (6) as motivações de uma sentença da justiça de Caltanissetta, na Itália, em um processo que investigou a atuação de policiais e investigadores para confundir e atrapalhar as análises do atentado que matou o juiz antimáfia Paolo Borsellino e mais cinco pessoas em 19 de julho de 1992.

Para além das justificativas sobre a prescrição do crime no caso dos policiais Mario Bo e Fabrizio Matei, e de absolvição do também policial Michele Ribaudo, os juízes afirmam, em mais de 1,4 mil páginas, que o crime não foi apenas encomendado e executado pelo grupo mafioso Cosa Nostra, mas que contou com a presença de "pessoas estranhas" à máfia.

"A investigação permitiu verificar uma série de elementos úteis para dar concretude às teses de participação (moral e material) no atentado da Via D'Amelio a outros sujeitos (diversos da Cosa Nostra) e/ou de grupos de poder interessados na eliminação de Paolo Borsellino", escreveram os magistrados.

Um dos pontos que sustenta a hipótese é o sumiço de um diário vermelho que, segundo familiares, era usada pelo então juiz para escrever reflexões e análises sobre os casos que estava julgando.

Conforme as motivações, houve uma ingerência de "sujeitos terceiros" na questão "no tempo anormal da tragédia de Via D'Amelio (ocorrido há apenas 57 dias do atentado de Capaci [que matou o juiz antimáfia Giovanni Falcone]), a presença referida do arrependido Gaspare Spatuzza, uma pessoa estranha à máfia no momento da entrega do Fiat 126 carregado de explosivos e o sumiço do diário".

Ao longo dos anos, ficou comprovado que alguns membros da máfia ou pessoas detidas nas investigações foram forçadas a fazer confissões para proteger os verdadeiros mandantes do crime, os chefes mafiosos da Cosa Nostra, como no caso de Spatuzza.

"Não é aleatório sustentar que o tempo do atentado representa um elemento de anomalia em relação à tradicional ação da Cosa Nostra, que é voltada a diluir no tempo as suas ações delituosas no caso de ataques institucionais (sobretudo no caso de magistrados) e que está na lógica de frear a atividade de reação das instituições", acrescentam, dizendo que o fato de ter um estranho no caso afetaria ainda "a lógica mafiosa" em questões delicadas.

"A menos que hipotetizemos cenários improváveis de integrantes da Cosa Nostra circulando entre dezenas de integrantes das forças policiais, podemos dizer com certeza que o sumiço da agenda vermelha não é reconduzível a uma atividade material da Cosa Nostra", pontuou ainda.

Porém, por conta da distância no tempo e das alterações da cena do crime pelos próprios investigadores e policiais, os magistrados reconhecem que "não é possível a exata individualização da pessoa física que fez o procedimento da retirada da agenda".

"Mas, não há dúvidas que só pode ter sido alguém que, por conta de sua atuação no cargo, podia ir sem ser incomodado àquele determinado contexto espaço-temporal e, por conhecimento, sabia o que era necessário ou oportuno retirar de lá", escrevem.

O atentado na Via D'Amelio, em Palermo, matou Borsellino e cinco agentes de segurança que faziam sua escolta: Agostino Catalano, Emanuela Loi, Vincenzo Li Muli, Walter Eddie Cosina e Claudio Traina. O carro com explosivo foi acionado em frente à então residência do juiz, no momento em que ele estava retornando para o prédio.

Ao lado de Falcone, Borsellino tinha uma forte atuação contra crimes cometidos pela máfia e condenou diversos chefões à prisão por seus crimes. (ANSA).
   

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