(ANSA) - No segundo dia de sua visita ao Chile, o presidente da Itália, Sergio Mattarella, disse nesta quarta-feira (5) que o negacionismo é a base nostálgica do autoritarismo.
A declaração foi dada durante a palestra "América Latina e Europa: dois continentes unidos pela paz, democracia e desenvolvimento", na Universidade de Santiago do Chile.
"O valor da memória na história de um país é um elemento fundamental da sua identidade. Tanto na Europa como na América Latina é preciso pronunciar com força 'o não' a todo negacionismo, terreno fértil da nostalgia autoritária", afirmou o líder italiano.
"O 'nunca mais' que segue a consciência de uma nação madura deve ser sempre acompanhado pela coragem da verdade", alertou.
Dirigindo-se a docentes e alunos, Mattarella voltou a falar da "amizade profunda" entre a Itália e o Chile e destacou o papel que os dois países, assim como seus respectivos continentes, podem desempenhar no cenário internacional, apesar de historicamente "a Europa nem sempre ter sido previdente com a América Latina".
"A proximidade entre a Itália e o Chile é demonstrada pela forma como o povo italiano viveu intensamente a profunda violação das liberdades e dos direitos das pessoas perpetrada pela ditadura militar", acrescentou ele, referindo-se ao golpe de estado que fez Augusto Pinochet derrubar o governo de Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973.
Mattarella lembrou como a Embaixada da Itália, nos anos que se seguiram ao golpe de Estado, se tornou um "ponto de referência para centenas de perseguidos, oferecendo-lhes refúgio e salvando suas vidas".
De acordo com o chefe de Estado italiano, durante os anos da ditadura chilena de Pinochet, "a experiência de muitos cidadãos de nosso país, em particular os jovens, foi profundamente afetada pelos assuntos chilenos, assim como grande parte a opinião democrática europeia".
Para Mattarella, "a Itália sempre manteve as profundas relações de amizade com o Chile, alimentadas também pela presença de uma grande comunidade de origem italiana que é parte integrante do povo chileno, bem como pela partilha dos valores democráticos e do estado de direito, da ação comum - também em nível internacional - para proteger os direitos humanos".
"São valores universais que marcaram dramaticamente a história deste país. Uma história que há 50 anos se cruzou com a da República Italiana, até se fundir com ela numa memória que hoje é um patrimônio comum", enfatizou.
Durante sua intervenção, o presidente da Itália também mencionou a guerra russa na ucrânia e o papel que a Europa e a América Latina podem desempenhar para a estabilidade internacional.
"Precisamos de advogados de boas causas, capazes de enfrentar os desafios relativos à sobrevivência da humanidade como um todo, evitando a mera lógica do conflito e o surgimento, como na recente agressão russa contra a independência da Ucrânia, de pressões por confronto militar que desviam recursos necessários ao desenvolvimento humano", afirmou ele.
Além disso, Mattarella ressaltou que "a liberdade comercial é, sem dúvida, uma parte importante das liberdades nas quais se alimentam as relações entre os países; e é um elemento que aumenta a interdependência entre os Estados, que devolve os conflitos à sua autêntica imprudência", o que é medido pelas "consequências das tensões geopolíticas resultantes da agressão sem sentido da Federação Russa à Ucrânia".
Por fim, Mattarella reforçou que a União Europeia e a América Latina "podem e devem ser autoras de mensagens e iniciativas de paz, respeito pelo direito internacional, justiça social e desenvolvimento", também porque "a realidade multipolar propõe o diálogo e a colaboração bilateral com gigantes como o EUA ou a China". (ANSA).