Política

'Bolsonaro argentino' mira presidência após vencer primárias

Ultraliberal Javier Milei surpreendeu e obteve 30% dos votos

'Bolsonaro argentino' venceu primárias neste domingo

Redazione Ansa

(ANSA) - Por Ludovico Mori - Terremoto, tsunami, ciclone, furacão. Sinônimos de cataclismos estampam as manchetes de jornais locais e internacionais para definir a surpreendente vitória do ultraliberal Javier Milei que se abateu sobre a Argentina nas primárias presidenciais de domingo (13).

Um destaque proporcional à surpresa causada pelo resultado que viu o candidato outsider da coalizão A Liberdade Avança (LLA) materializar-se repentinamente como o mais votado no geral.

Milei, considerado por muitos o Jair Bolsonaro argentino por seus excessos verbais e ideias extremas, conquistou 30% das preferências nacionais e agora é apontado como o favorito nas eleições presidenciais de outubro.

O "leão", como é definido por seus partidários por seu cabelo desgrenhado e pela coragem que exibe ao desafiar o establishment político, superou efetivamente os porta-estandartes mais populares dos partidos tradicionais.

A ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich venceu as primárias da coalizão de centro-direita Juntos Pela Mudança (JxC), com escassos 16,7%, enquanto que o atual ministro da Economia, Sergio Massa, recebeu 21,40% dos votos e representará a peronista União pela Pátria (UP).

Inicialmente considerado como um fenômeno urbano confinado à capital Buenos Aires, Milei, em vez disso, coletou a maior parte de seus votos nas províncias. E, se na capital era apenas o terceiro, com 17%, em Mendoza, Neuquén e Chubut prevalecia com percentuais até então impensáveis, próximos a 40%.

Trata-se de números que o levaram a afirmar, no discurso que proferiu logo após a divulgação dos dados oficiais, estar "em condições de vencer o primeiro turno" das presidenciais de 22 de outubro.

"Estamos diante do fim do modelo, cuja expressão máxima é a aberração chamada justiça social, que só produz déficits fiscais. Hoje, foi o primeiro passo para o renascimento da Argentina", disse Milei, que sempre prometeu querer "chutar a casta política ladra e inútil".

E que, entre outras coisas, quer acabar com o Banco Central, proibir o aborto, facilitar a compra de armas, abrir o mercado para a venda de órgãos. Além de acreditar que a mudança climática é uma mentira.

Com as façanhas de Milei nas primárias, a centro-direita JxC já começou a construir pontes com vistas a uma futura aliança com o partido ultraliberal que garantisse uma sólida maioria parlamentar e com o objetivo de tirar definitivamente o peronismo do poder.

"Parabéns ao Milei pela grande eleição que fez, abriu um debate e a sociedade pede uma mudança profunda, desde a raiz", reconheceu Patricia Bullrich. Na mesma linha, o ex-presidente Mauricio Macri disse que "a Argentina está entrando em uma mudança de época que definitivamente está deixando para trás ideias muito prejudiciais que só geraram pobreza, problemas e desunião entre os argentinos".

Por outro lado, o peronismo registrou o pior desempenho eleitoral de sua história. No 40º aniversário do retorno da democracia, o partido que mais do que qualquer outro encarnou o poder político na Argentina agora corre o risco de ser desprezado à margem.

Forçado até 22 de outubro a administrar uma das piores crises econômicas da história do país, Massa enfrenta um desafio que parece impossível. No domingo, ele fez um apelo direto aos moderados de centro-direita para "construir uma nova maioria" e convocou as 10 milhões de abstenções para votar. Mas enquanto isso, o Banco Central já anunciou uma desvalorização de 22%, pressionando ainda mais a inflação que já está em 110%. Neste contexto, já será um sucesso para o ministro da Economia conseguir transportar o país até outubro. (ANSA).
   

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