(ANSA) - Uma livraria na região do Vêneto, no nordeste da Itália, afixou um cartaz na porta em que diz "pedimos à gentil clientela que não nos peça o livro de Vannacci", em referência aos escritos do general de divisão Roberto Vannacci, considerados homofóbicos e machistas.
"Não temos porque foi produzido e publicado por ele mesmo, mas não o venderia. Não poderia jamais pedir à minha funcionária negra, ou ao meu colega homossexual, que ajudassem um cliente que pedisse um livro em que se diz que são pessoas anormais", declarou à ANSA Clara Abatangelo, dona da livraria Ubik, na cidade de Castelfranco Veneto.
A proprietária colou o papel na porta na última sexta-feira (18): "Para quem me pediu nos últimos dias, digo para ir à biblioteca, já que toda editora tem que entregar gratuitamente duas cópias às bibliotecas nacionais de Roma e Florença, e que qualquer um pode pegar emprestado".
A livreira, que emprega 12 pessoas, relata que no passado já foi "visitada" por militantes de extrema-direita por ter dedicado vitrines a livros com romances homossexuais, e que já teve até uma prateleira revirada por ter colocado mensagens pró-LGBTQIA+.
Roberto Vannacci, de 55 anos, é investigado e foi afastado do Exército após uma reportagem que revelou o conteúdo do livro "Il mondo al contrario" ("O mundo ao contrário", em tradução livre), que escreveu e publicou por conta própria, atacando os homossexuais, o feminismo, o ambientalismo e os imigrantes irregulares.
Vannacci foi defendido publicamente pelo vice-premiê Matteo Salvini, que afirmou que leria seu livro, e os dois conversaram por telefone.
"Não direi nada sobre o conteúdo da comunicação, mas gostei muito, com certeza. Como gostaria sempre que alguém mostra interesse por um servidor público e seu sentimento", declarou o general afastado ao jornal Corriere della Sera.
"Não sou um monstro. Não retiro o que eu disse. Já que não ofendi nem lesei a dignidade de ninguém, tenho direito a expressar minha opinião. Reivindico o direito de criticar, enquanto estiver na seara do que é permitido pela lei. As minhas ideias são as de uma multidão de pessoas. Não sou paladino da maioria dos italianos, mas claramente há pessoas que se identificam com minhas opiniões", acrescentou.
Sobre o afastamento, o militar disse que não conversou com o ministro da Defesa, Guido Crosetto, e apenas leu suas declarações no jornal: "Não recebi notificação. Fui afastado, mas não fui removido do meu cargo, destituído. Vamos ver ao fim do processo disciplinar quais fatos me foram imputados e quais são as acusações".
Já o ministro Crosetto afirmou que agiu como representante das Forças Armadas, não como político: "Faria de novo porque o ministro da Defesa deveria fazer. Agi para tutelar o general, as Forças Armadas, os valores constitucionais e republicanos. Os militares desejavam medidas ainda mais duras". (ANSA).