(ANSA) - O ex-primeiro-ministro da Itália Giuliano Amato disse neste sábado (2) que um míssil francês teria provocado a queda de um avião na região da Sicília em 1980, deixando 81 mortos, no misterioso "Desastre de Ustica".
Em entrevista ao jornal italiano "La Repubblica", Amato disse que o voo Dc9 Bolonha-Palermo operado pela agora extinta companhia aérea Itavia, que caiu no Mar Tirreno entre as ilhas de Ponza e Ustica, em 27 de junho de 1980, foi atingido em uma tentativa de assassinar o falecido líder líbio Muammar Gaddafi.
"Foi elaborado um plano para atingir o avião em que Gaddafi viajava. Mas o líder líbio evitou a armadilha porque foi avisado por [Bettino] Craxi", falecido líder do Partido Socialista Italiano e ex-primeiro-ministro.
Segundo o ex-premiê italiano, "agora, o Palácio do Eliseu pode lavar a desonra que pesa sobre (a consciência de) Paris".
Logo depois da divulgação da entrevista, a presidente da associação de familiares das vítimas do desastre, Daria Bonfietti, saudou a revelação. "Essas palavras são importantes e esta é uma reconstrução correta de tudo o que está nos documentos (relativos ao caso), que conhecemos há anos", disse ela.
O acidente, que ceifou a vida de 13 crianças, tem sido objeto de inúmeras investigações, ações judiciais e acusações, incluindo alegações de conspiração.
Hoje, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, pediu a Amato que apresentasse qualquer evidência que tivesse depois de sua declaração.
"As importantes palavras de Giuliano Amato sobre Ustica merecem atenção. Mas Amato especifica que essas palavras são fruto de deduções pessoais", alertou Meloni.
A premiê da Itália pediu ainda que, se Amato possui elementos, além de deduções, que permitam retroceder (e reavaliar) as conclusões a que chegaram o poder judicial e o parlamento", disponibilize-os "para que o governo possa dar quaisquer passos possíveis resultantes deles".
Além disso, Meloni explicou que não foram confidenciais quaisquer documentos relativos ao desastre de Ustica decorrentes de investigações criminais e do trabalho das comissões parlamentares de inquérito.
O governo francês, por sua vez, rebateu dizendo que já forneceu à Itália todas as informações que tinha sobre a "tragédia", "sobretudo no âmbito das investigações conduzidas pelo poder judiciário italiano, e garantiu que irá colaborar novamente com Roma, se solicitado. "Estamos obviamente disponíveis para trabalhar com a Itália se ela nos solicitar", afirmou.
No último dia 27 de junho, a Itália celebrou os 43 anos do "Desastre de Ustica" e promoveu uma série de apresentações teatrais e concertos de música clássica em homenagem aos mortos. Autoridades locais pediram "uma última verdade" sobre os "perpetradores e responsáveis materiais" do acidente.
Em 2013, a Corte de Cassação da Itália considerou "consagrada" a tese de que um míssil foi o responsável pela queda da aeronave, quando ela sobrevoava a cidade de Ustica.
Já no ano de 2007, o ex-presidente italiano Francesco Cossiga chegou a afirmar que o DC9 tinha sido alvo de foguetes internacionais que tentavam atingir um avião de Kadafi. No entanto, ainda hoje não se sabe a exata origem do suposto míssil. (ANSA).