(ANSA) - Na semana em que a Itália sedia a edição 2023 do Festival de Sanremo, a residência sanitária assistencial (RSA) do grupo San Raffaele está apostando em oficinas de musicoterapia voltadas para a estimulação cognitiva de pacientes que sofrem de vários tipos de doenças neurodegenerativas, incluindo o mal de Alzheimer, por meio da audição de músicas que já foram trilhas sonoras de suas vidas.
Mas a música realmente tem acesso à rede de saliência do cérebro, que alguns pesquisadores argumentam não ser afetada nesses pacientes? "De acordo com um estudo recente da Universidade de Northwestern, nos EUA, realizado em colaboração com o Institute for Therapy through the Arts (ITA, na sigla em inglês), as emoções produzidas ao ouvir a música amada na juventude resistiriam tanto ao Alzheimer quanto à demência", explica Paolo Maria Rossini, chefe do Departamento de Neurociência e Neurorreabilitação do Hospital San Raffaele.
Segundo o italiano, sabe-se "que ouvir música tem efeitos protetores contra os processos de neurodegeneração subjacentes às várias formas de demência, incluindo a mais difundida e conhecida: Alzheimer".
A demência é uma doença neurodegenerativa caracterizada pelo comprometimento progressivo de um ou mais domínios cognitivos, como memória, atenção, as funções executivas e linguagem.
"Desde 2001, a música foi introduzida como uma técnica não farmacológica para melhorar as funções cognitivas e, em particular, os distúrbios comportamentais em pacientes afetados pela demência. A sua eficácia terapêutica parece basear-se na preservação da memória musical mesmo em casos e estágios mais avançados da doença, graças aos quais o paciente com demência parece manter intactas as habilidades e competências musicais fundamentais, entonação, sincronia rítmica, senso de tonalidade", explicou Rossini.
Questionado se a música pode, portanto, também ser uma forma alternativa de comunicação com pacientes nos quais a memória linguística e visual são prejudicadas precocemente, ele respondeu que "os circuitos cerebrais subjacentes à linguagem falada/ouvida e à linguagem musical são parcialmente sobreponíveis, mas observa-se com frequência que, em face de danos substanciais à linguagem falada, a musical e o canto de textos musicais são muito menos danificados".
"A música tem um efeito principalmente de calmante sobre os sintomas comportamentais como agitação psicomotora e agressividade em pacientes com demência. Além disso, os circuitos musicais têm ligações muito estreitas com aqueles dedicados à memória. Em particular, à semelhança das memórias das primeiras fases da vida (infância e juventude) que desaparecem por último, as memórias das canções populares nos anos da nossa juventude também permanecem por muito tempo", acrescentou.
Por fim, o especialista italiano disse que "ouvir e cantar essas músicas, portanto, ajuda a controlar os momentos de agitação e chama a atenção (muitas vezes muito ondulante e caprichosa) do paciente".
"Por razões apenas parcialmente esclarecidas, as memórias autobiográficas são preservadas mais e por mais tempo do que outros tipos de memórias (por exemplo, as derivadas da observação de fotografias da própria infância/juventude) em doentes de Alzheimer", concluiu. (ANSA).