(ANSA) - O líder da organização paramilitar privada russa Grupo Wagner declarou neste sábado (24) insurreição armada contra o comando militar russo e afirmou que suas tropas tomaram instalações militares em uma cidade no sul da Rússia.
A atitude foi tomada após o grupo de mercenários acusar o Ministério da Defesa da Rússia de promover um ataque contra a própria organização, supostamente matando diversos de seus membros.
Yevgeny Prigozhin garantiu que suas tropas irão "destruir tudo que estiver no seu caminho". "Continuamos, chegaremos até o fim", disse ele em mensagem de áudio publicada no Telegram, ressaltando que "a guerra civil começou oficialmente".
De acordo com o líder paramilitar, seus membros entraram em território russo pela região de Rostov, logo após o grupo derrubar um helicóptero do Exército russo.
Prigozhin ainda desafiou o Kremlin e prometeu marchar até Moscou com seus 25 mil homens prontos para morrer se o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, não aceitar conhecê-lo.
Segundo ele, este não é um golpe militar, mas uma marcha por justiça e suas ações não interferem de forma alguma nas tropas.
Moscou, por sua vez, teve sua segurança reforçada, principalmente em prédios ligados ao governo e infraestruturas "críticas", informou a agência Tass.
"As medidas de segurança em Moscou foram fortalecidas. Todas as instalações críticas, sedes do governo e infraestrutura de transporte foram colocadas sob proteção reforçada", acrescentou a publicação, acrescentando que as unidades especiais da Guarda Nacional Russa foram colocadas em alerta total.
O prefeito da capital russa anunciou que medidas "antiterrorismo" estão sendo tomadas depois que o chefe do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin, declarou oficialmente guerra aos líderes militares do país.
"Em conexão com as informações que chegam a Moscou, medidas antiterroristas estão sendo tomadas com o objetivo de fortalecer a segurança", disse Sergei Sobyanin nas redes sociais.
Conforme comunicado do Departamento de Imprensa e Relações Públicas do Serviço Federal de Segurança da Rússia, citado pela RIA Novosti, a Praça Vermelha e o Mausoléu de Lenin estarão fechados para visitantes em 24 de junho "devido aos acontecimentos".
O general do Exército da Rússia, Vladimir Alekseev, primeiro vice-chefe da inteligência militar russa, definiu os ataques do líder de Wagner como "um golpe de estado", "uma facada nas costas do país e do presidente".
"Só o presidente pode nomear o mais alto comando das Forças Armadas e vocês estão tentando usurpar o poder dele. Isso é um golpe", enfatizou o general.
Discurso Putin -
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, classificou a rebelião da organização paramilitar privada russa Grupo Wagner como uma “facada nas costas” e prometeu punir todos os traidores.
“Todos aqueles que escolheram o caminho da traição serão punidos e responsabilizados. As forças armadas receberam as ordens necessárias", declarou o líder russo em um discurso à nação.
Putin reforçou que a resposta à mobilização será dura e pediu para todos “aqueles que estiveram envolvidos nisso” encerrarem “suas ações criminosas".
“É um golpe para a Rússia, para o nosso povo. E nossas ações para defender a Pátria contra tal ameaça serão duras”, garantiu ele.
Segundo o presidente russo, “todos aqueles que deliberadamente pisaram no caminho da traição, que prepararam uma insurreição armada, que seguiram o caminho da chantagem e métodos terroristas, sofrerão punição inevitável, responderão tanto à lei quanto ao nosso povo”.
“Este golpe também atingiu o povo russo em 1917, quando eles lutavam na Primeira Guerra Mundial, quando a vitória foi praticamente roubada deles. A guerra civil, os russos mataram outros russos, os irmãos mataram outros irmãos. Os vários aventureiros políticos se aproveitaram dessa situação. Não permitiremos que tal situação aconteça novamente”, prometeu Putin, acusando o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, de traição por “ambição pessoal”.
Por fim, ele assumiu que a situação em Rostov-on-Don, cidade que foi tomada pelo Grupo Wagner, está complicada e “ações firmes serão tomadas para estabilizar” a região.
“A situação continua difícil”, afirmou ele, lembrando que “o trabalho dos órgãos governamentais civis e militares foi efetivamente bloqueado” e que será necessário “unir forças”.
Após o discurso, Prigozhin disse que Putin está errado ao acusa-lo de traição e garantiu que os membros da organização são patriotas e não pretendem se entregar por ordem do presidente.
“Ninguém vai se entregar a pedido do presidente”, reforçou ele, acrescentando que “não queremos que o país continue vivendo na corrupção e na mentira”.
Prigozhin garantiu que todos são patriotas e “aqueles que estão contra nós são aqueles que se uniram aos bastardos”.
Reações -
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, “acompanha de perto” e com preocupação os acontecimentos na Rússia após o líder da organização paramilitar privada Grupo Wagner declarar insurreição armada contra o comando militar russo.
A informação foi divulgada em um comunicado do Palácio Chigi, sede do governo italiano.
De acordo com a nota, a situação “mostra como a agressão contra a Ucrânia está causando instabilidade também dentro da Federação Russa”.
Meloni, que visita a Áustria, enfatizou que o governo italiano está ciente de uma situação de caos dentro da Rússia que destoa um pouco com certa propaganda vista nos últimos meses”.
“São acontecimentos das últimas horas, não é fácil dizer com exatidão o que se passa: aproveito também para comunicar à imprensa que, findo este compromisso que não quis faltar, convoquei os competentes ministros e a inteligência italiana para obter mais informações. Não posso fazer previsões sobre como as coisas podem correr", afirmou a premiê durante coletiva de imprensa.
A líder italiana explicou ainda que já há contatos com aliados internacionais e posteriormente haverá uma reunião convocada a nível de chanceleres para troca de informações.
"Não podemos desviar a atenção da Ucrânia. A Itália e a Europa mostraram uma lucidez que nem sempre se viu no passado. O que está acontecendo nos mostra o quanto certa propaganda feita no passado pela Rússia, sobre a força e a compacidade do regime, não correspondia à realidade", disse Meloni.
Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, confirmou que haverá uma reunião dos chanceleres da União Europeia (UE) em Luxemburgo na próxima segunda-feira (26).
“Estamos acompanhando com preocupação e atenção uma situação de caos que não sabemos como pode evoluir”, afirmou Tajani, lembrando que "tudo é monitorado, nossa Unidade de Crise está operacional 24 horas por dia, sete dias por semana e estamos constantemente alertados sobre o que está acontecendo".
O chanceler explicou ainda que os cidadãos italianos na Rússia foram orientados a não saírem de suas casas, exceto por motivos excepcionais, e a terem cautela.
"Em relação aos cerca de 5,6 mil italianos atualmente na Federação Russa, não temos relatórios negativos, tudo está em ordem, não há nada com que se preocupar, mas eles foram convidados a serem muito cautelosos”, concluiu.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou com seu homólogo francês, Emmanuel Macron, o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o premiê do Reino Unido, Rishi Sunak, para discutir a situação na Rússia e afirmar seu “apoio inabalável” à Ucrânia, informou a Casa Branca.
Já o mandatário da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou que Putin está com medo e já deve ter se escondido após o início da rebelião do Grupo Wagner.
"Direi em russo: o homem do Kremlin está obviamente muito assustado e provavelmente está escondido em algum lugar, sem se mostrar. Tenho certeza que ele não está mais em Moscou. Ele liga para algum lugar, pede algo de lá...Ele sabe do que tem medo, porque ele mesmo criou essa ameaça", declarou o líder ucraniano.
Hoje, o Ministério da Defesa de Kiev informou que a Ucrânia lançou uma ofensiva em várias direções na frente oriental.
Recuo -
O líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, afirmou que ordenou que suas tropas encerrassem o avanço até Moscou para evitar um "derramamento de sangue".
"Os milicianos de Wagner chegaram a 200 quilômetros de Moscou, mas agora estão recuando, retornando ao sul para evitar "derramamento de sangue russo" de um lado ou de outro", disse ele em mensagem de áudio no Telegram.
Prigozhin, no entanto, não revelou se o Kremlin respondeu à sua exigência de demitir o ministro da Defesa, Sergei Shoigu.
O recuo confirma a declaração divulgada pelo governo de Belarus, cujo presidente Alexander Lukashenk disse ter negociado um cessar-fogo entre o líder mercenário e o regime de Vladimir Putin.
"As negociações entre o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, e o chefe dos mercenários Wagner, Yevgeny Prigozhin, continuaram ao longo do dia. Como resultado, chegaram a um acordo sobre a inadmissibilidade de desencadear um massacre sangrento no território da Rússia", diz o comunicado oficial do governo de Belarus.
De acordo com a nota, "Prigozhin aceitou a proposta do presidente de Belarus para parar o movimento de pessoas armadas do Grupo Wagner no território russo e tomar novas medidas para diminuir as tensões".
"No momento, uma opção absolutamente vantajosa está em a mesa como forma aceitável de resolver a situação, com garantias de segurança para os lutadores de Wagner", conclui o texto.
Logo depois, a Rússia anunciou que não “perseguirá penalmente” os combatentes do Grupo Wagner. Além disso, a investigação criminal contra Prigozhin será suspensa e ele irá para Belarus, informou o Kremlin.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, também agradeceu o seu homólogo de Belarus, Alexander Lukashenko, por seu papel como mediador. (ANSA)
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