(ANSA) - Os quatro sobreviventes de um naufrágio que teria deixado mais de 40 mortos no Canal da Sicília relataram às autoridades da Itália os momentos de pânico vividos no Mar Mediterrâneo, mas os investigadores ainda tentam preencher as muitas lacunas e solucionar inconsistências nos relatos.
Os náufragos - uma garota e dois jovens desacompanhados e um homem adulto da Costa do Marfim e da Guiné - desembarcaram na ilha italiana de Lampedusa nesta quarta-feira (9), em estado de choque.
Segundo eles, um grupo de 45 migrantes partira de Sfax, na Tunísia, na última quinta (3), porém o barco virou por causa de uma forte onda após somente seis horas de navegação.
"Nós nos agarramos às câmaras de ar, mas, com o passar do tempo, talvez horas, vimos nossos companheiros de viagem se afastar, carregados pelas fortes correntes marítimas, e depois desaparecer. Nós vimos alguns serem engolidos pelas ondas", disse um dos náufragos.
O incidente teria ocorrido diante da costa da Líbia, país vizinho à Tunísia, e os sobreviventes afirmam que passaram várias horas na água, até encontrar um "barco de ferro vazio". "Nós éramos em 10", declarou um deles, mas o destino dos outros seis ainda é desconhecido.
Os sobreviventes contaram que ficaram à deriva na embarcação abandonada e sem motor por quatro dias, até quando foram socorridos por um navio de Malta. Em seguida, foram transportados para um barco da Guarda Costeira italiana e levados para Lampedusa.
No entanto, as autoridades italianas ainda não estão plenamente convencidas pela reconstrução feita pelos sobreviventes, e alguns socorristas acreditam que suas condições são incompatíveis com diversos dias sem água ou comida.
O Ministério Público de Agrigento, no sul da Itália, abriu uma investigação por favorecimento à imigração clandestina para apurar o caso, e os sobreviventes devem ser ouvidos novamente nos próximos dias.
Os náufragos também deixaram transparecer o medo de falar sobre a tragédia, possivelmente temendo represálias de traficantes de seres humanos. "Eles sofreram muito, e acredito que têm medo de falar", disse Ignazio Schintu, vice-secretário-geral da Cruz Vermelha italiana.
Segundo o Ministério do Interior da Itália, o país já recebeu 93,7 mil migrantes forçados e refugiados via Mediterrâneo em 2023, um aumento de 110% em relação ao mesmo período de 2022.
Já a Organização Internacional para as Migrações (OIM) diz que mais de 1,8 mil pessoas morreram ou desapareceram tentando concluir a travessia neste ano, considerando apenas a rota do Mediterrâneo Central.
A nova tragédia chega na esteira do naufrágio que deixou pelo menos 82 mortos e centenas de desaparecidos no litoral da Grécia, em 14 de junho, e de um episódio semelhante em Cutro, na costa italiana, com 87 vítimas, em fevereiro passado.
Em uma nota conjunta, a OIM, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e o Unicef cobraram a instituição de "mecanismos coordenados de busca e socorro" e o "aumento dos recursos" para enfrentar a emergência no Mediterrâneo.
"Os números de hoje agravam o balanço das vítimas de naufrágios no Mediterrâneo Central, que é uma das rotas mais ativas e perigosas do mundo, responsável por mais de 75% das vítimas no Mediterrâneo nos últimos 10 anos", afirmaram. (ANSA)
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