(ANSA) - O pai da jovem Giulia Cecchettin, que morreu aos 22 anos e teria sido vítima de feminicídio pelo ex-namorado, disse aos jornalistas nesta segunda-feira ao sair de casa que "não sente nada".
"Não sinto raiva, não sinto nada. Eu penso na minha Giulia, que para mim já não existe mais", disse Gino Cecchettin ao sair de sua casa em Vigonovo, em Veneza.
O ex de Giulia, Filippo Turetta, também de 22 anos, foi preso neste domingo (19) na Alemanha após uma semana de buscas.
A irmã dela, Elena Cecchettin, também se pronunciou: "Minha irmã era melhor, mais doce, mais sensível do que todos imaginam. Uma alma pura, uma eterna criança, mas não no sentido de ser estúpida e ingênua; no sentido de que ela era uma pessoa que vivia a vida com leveza e sem maldade".
"Esta manhã eu imaginei minha irmã me dizendo 'força, vai'.
Ela sempre me dizia que eu era uma 'óplita'. Quando ela estava no ensino médio, ela me contava que os óplitas eram guerreiros e ela sempre dizia que precisamos ter a força de um óplita", acrescentou.
O advogado da família de Filippo informou que o pai do suspeito, Nicola Turetta, se aproximou dos pais de Giulia no domingo durante uma vigília após a descoberta do corpo da jovem, entre o lago de Barcis e o distrito de Piancavallo, na província de Pordenone, norte do país.
"Foi um encontro sem formalidades que mais uma vez demonstra a grande dignidade demonstrada por ambas as famílias nesta situação. Tudo ocorreu com respeito mútuo, assim como nos dias anteriores", relatou Emanuele Compagno.
Elena também se pronunciou em uma carta enviada ao jornal Corriere della Sera: "Turetta é frequentemente chamado de monstro, mas na verdade não é um monstro.
Um monstro é uma exceção, uma pessoa externa à sociedade, uma pessoa da qual a sociedade não deve assumir a responsabilidade".
"E, no entanto, a responsabilidade está presente. Os 'monstros' não estão doentes, são filhos saudáveis do patriarcado, da cultura do estupro. Cada homem é privilegiado por essa cultura. Muitas vezes se diz 'nem todos os homens'. Não todos os homens, mas são sempre homens", disse.
Para a irmã de Giulia "o feminicídio é um assassinato de Estado, porque o Estado não nos protege, porque não nos protege.
Feminicídio não é um crime passionaI, é um crime de poder".
A reitora da Universidade de Pádua, onde o ex-casal estudava, disse que Giulia estava prestes a se formar em engenharia e que a instituição dará o diploma à família dela.
"Este é o momento de respeitar a dor da família, do pai e dos irmãos de Giulia. Quando chegar o momento, entraremos em contato com a família para uma cerimônia com os prazos e modalidades que a família quiser aceitar", disse Maddalena Mapelli.
Nesta segunda, a Itália vive uma onda de passeatas, protestos e minutos de silêncio em homenagem a Giulia.
Alvo de um mandado de prisão internacional, o suspeito deve ser extraditado pela Alemanha para responder a processo na Itália, onde arrisca pegar até a pena perpétua.
O Ministério Público de Veneza informou nesta segunda-feira que ele deve voltar à Itália dentro de 10 dias.
“A aceitação dele de voltar à Itália é um aspecto que acelera, para o arco de uma dezena de dias, a possibilidade de providenciar sua extradição”, explicou o procurador-chefe Bruno Cherchi.
“Desde ontem foram iniciados contatos com a magistratura alemã, os tempos da extradição de Turetta dependem deles, mas estão muito colaborativos”, concluiu.
Cecchettin e Turetta eram colegas no curso de engenharia biomédica na Universidade de Pádua e tiveram um relacionamento amoroso que foi encerrado pela jovem.No entanto, os dois continuaram amigos e até estudavam juntos, apesar dos repetidos ataques de ciúmes do homem.
Na noite de 11 de novembro, Turetta levou Cecchettin para passear e jantar em um shopping perto de Marghera, nos arredores de Veneza, e ambos não foram mais vistos desde então. No entanto, a câmera de segurança de uma loja flagrou o suspeito agredindo a ex-namorada. (ANSA).