(ANSA) - Por Sami al-Ajrami - Vista de Rafah, na extremidade sul da Faixa de Gaza, onde centenas de milhares de deslocados buscaram refúgio nas últimas semanas, a União Europeia está gerando sentimentos de decepção nos dias atuais.
No entanto, pelo menos para os mais jovens, é vista como um farol de esperança, um lugar onde poderiam reconstruir uma vida plena de realizações.
"A Europa está totalmente alinhada com Israel e apoia os massacres que seu exército comete contra nós. É necessário que exerça sua influência para pôr fim a esta guerra", lamenta Abdel Latif al-Odeh, um professor de inglês de Rafah, por volta dos 50 anos.
A questão da escassez de ajuda humanitária é o tópico principal em toda a Faixa, especialmente em Rafah, onde é difícil atender às necessidades dos deslocados.
"Nas embalagens da ajuda que chega aqui, geralmente vemos escritos em árabe, principalmente provenientes do Egito. No entanto, não vemos ajuda da Europa aqui. Talvez seja direcionada aos hospitais, o que também é importante. Mas nas ruas não se percebe a presença europeia", acrescenta al-Odeh.
Em uma barraca próxima, um idoso vendedor de verduras entra na conversa: "Quantas pessoas ainda precisam morrer antes que a Europa force Israel a encerrar a guerra? De qualquer forma, que ninguém pense que vamos deixar a Faixa, impulsionados pelo exército israelense. Eu prefiro ficar entre as ruínas da minha casa do que erguer uma tenda no Sinai".
Mas os tons são bem diferentes entre os jovens de 20 anos. "Eu estudei Direito por três anos na Universidade al-Azhar de Khan Yunis. Agora está em ruínas, como outras universidades. Minha única esperança se chama: Europa", diz Ahmed Zorob.
Nos meses anteriores, seus colegas tentaram a sorte indo para a Turquia para, de alguma forma, alcançar outros países europeus.
"É uma empreitada de pelo menos US$ 4 mil, muito arriscada. Meu sonho é que diante de nossa tragédia, a Europa abra as fronteiras. Que nos garanta vistos de entrada", acrescenta.
Na área agrícola de Khuz'a, perto de Khan Yunis, encontramos um grupo de jovens. Falando sobre a política da Europa em relação a Gaza, seus rostos se iluminam quando a Itália é mencionada.
"O povo italiano é solidário com os palestinos. Nunca esqueceremos Vittorio Arrigoni", acrescenta, lembrando o ativista do Movimento Internacional de Solidariedade, que morreu em Gaza em 2011 após ser sequestrado por um pequeno grupo de salafistas islâmicos.
"Nós nos lembramos bem. Ele trabalhava conosco nos campos de Khuz'a e, à noite, tomávamos chá todos juntos. Até os companheiros dele eram maravilhosos. Esses italianos arriscavam a vida conosco. Seremos eternamente gratos". (ANSA).