(ANSA) - Foi aberto e adiado para 24 de maio o processo que corre em Budapeste contra Ilaria Salis, italiana acusada de ter agredido dois extremistas de direita na capital húngara.
A militante antifascista de 39 anos se declarou não culpada nesta segunda-feira (29) na primeira audiência do caso.
Ela foi levada ao tribunal acorrentada, com algemas nos pulsos e os pés presos por tiras de couro com cadeados, mas entrou no plenário sorrindo, sendo puxada por uma agente de segurança através de uma corrente.
“Foi chocante, uma imagem enlouquecedora. Ela nos disse que sempre era transferida nessas condições, mas vê-la chocou muito. Puxada como um cachorro, com algemas presas em um cinturão de onde saia uma corrente até os pés. Ficou assim por três horas e meia”, relatou à ANSA Eugenio Losco, um dos advogados italianos de Salis.
“É uma grave violação das normas europeias. A Itália precisa acabar com essa situação agora”, acrescentou, acompanhado do pai dela.
O representante legal também explicou que a professora milanesa estava sorrindo porque viu amigos e familiares, com quem pôde falar pela primeira vez sem um vidro ou uma tela: “Depois também falei com ela após a audiência, e é claro que em uma situação como essa não é possível ser otimista”.
Um funcionário da embaixada da Itália também estava presente, e nesta terça-feira (20) os advogados e o pai de Ilaria Salis se encontrarão com o embaixador italiano em Budapeste, segundo Fusco: “O Estado italiano não pode continuar ignorando uma situação carcerária e processual que viola nossas leis”.
“Além disso, Ilaria se declarou não culpada mas explicou que nunca pôde ler os autos, que nunca foram traduzidos, e nunca viu as imagens sobre as quais se baseia a acusação. Essa situação precisa acabar, ela precisa ser transferida para a Itália”, disse o advogado.
Também nesta segunda, o vice-premiê e ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, escreveu no X (antigo Twitter): “Pedimos ao governo húngaro que acompanhe e intervenha para que sejam respeitados os direitos, previstos nas normas europeias, da cidadã italiana Ilaria Salis, presa aguardando julgamento”.
Tajani também determinou que o secretário-geral da chancelaria, Riccardo Guariglia, convoque o embaixador da Hungria em Roma em protesto contra as condições de detenção da cidadã italiana.
O comissário europeu para a Justiça, Didier Reynders, afirmou que o Executivo da União Europeia está “sempre disponível para os contatos bilaterais entre Itália e Hungria”.
Um cidadão alemão, acusado no mesmo processo, foi condenado a três anos de prisão. O julgamento foi imediato porque o homem se declarou culpado.
Pai relata maus-tratos
Em entrevista à emissora Rete 4, Roberto Salis, pai de Ilaria, afirmou que a filha “foi torturada por 35 dias”.
“Foi deixada com roupas sujas que lhe foram entregues na delegacia, passou oito dias em uma cela de isolamento sem papel higiênico, sabonete e absorventes. Antes que a embaixada conseguisse entregar um pacote, se passaram 35 dias nos quais minha filha teve que usar uma das peças de roupa para se secar depois do banho, pois não tinha toalha”, narrou.
Ilaria Salis, professora milanesa e militante antifascista, foi presa acusada de agredir extremistas de direita no país.
(ANSA).