(ANSA) - Em julho de 2023, três meses antes de morrer, o chefão mafioso italiano Matteo Messina Denaro afirmou aos promotores que “levava a vida de um homem livre”.
O poderoso líder da organização siciliana Cosa Nostra foi preso em janeiro de 2023, após quase 30 anos foragido. Ele já tratava um câncer no cólon, que tirou sua vida aos 61 anos, em outubro.
O relatório do interrogatório foi apresentado na audiência preliminar contra a histórica amante do “padrino” Laura Bonafede.
“Que vida eu levava em Palermo? Livre como a que levava em Campobello [locais onde passou seu período foragido]. As minhas amizades não começam e terminam só no mundo que vocês consideram mafioso, não é assim, as minhas amizades estavam em todo lugar”, disse, na ocasião.
Messina Denaro contou que fez tatuagens no centro de Palermo entre 2006 e 2009, e que frequentava um dentista.
“Nunca fiz distinção entre ricos e pobres. Obviamente, se eu andava com uma pessoa pobre, não ia de Rolex, por educação. Mas se estava com pessoas como eu, sem problemas, não ficava contando vantagem, não queria demonstrar nada”, garantiu.
Ele também afirmou que foi preso por um erro próprio, e que não foi traído por ninguém: “Me pegaram pela doença, se não nem me pegariam. Já reconstruí mentalmente como foi a situação, sei que não teve nenhum traidor. Na manhã em que fui preso, a primeira coisa que alguém pensaria é que alguém o traiu. Até Jesus Cristo foi traído... O delegado me disse: ‘garanto que ninguém o traiu’ e eu não acreditei. Depois, pensando, disse: ‘é verdade’”.
“Me pegaram pela doença ou por um erro meu, contar a minha irmã. Por que contei para ela? Não queria ser encontrado morto e ninguém na família sabia nada”, disse, em referência ao fato de ter sido preso em um dia de sessão de quimioterapia.
Com um tom cansado, com visível dor e disposto a admitir só mesmo o que não poderia negar, Messina Denaro disse que não tinha inimigos: “Sou, entre aspas, um mafioso, como vocês me consideram, um pouco anômalo. Não fiz inimigos no território. Todo mundo gosta de mim. Você esperava encontrar um Rambo, e não encontrou nada”.
Já muito doente e consciente de estar os dias contados, continuou: “Sempre fui, naquilo que vocês consideram máfia, uma garantia para todos. Nunca roubei nada de ninguém. Nunca tentei prevaricar, nem buscar ascensão no poder, nem dinheiro”.
Ele disse que o dinheiro apreendido com sua família não era da máfia: “Era para me manter. O dinheiro que encontraram com minha irmã, certamente era de origem da minha mãe, era dinheiro de família. Obviamente, se minha mãe pudesse ajudar, ajudava. Você acha que eu fazia assalto ou extorsão? Nunca extorqui ninguém, nunca trafiquei droga, nunca roubei”.
Messina Denaro era tido como o último representante da "era dos massacres" da Cosa Nostra, período entre o fim dos anos 1980 e início dos anos 1990 em que a máfia cometeu atentados nas principais cidades italianas. Dois deles, ambos em 1992, custaram as vidas dos juízes antimáfia Giovanni Falcone e Paolo Borsellino.
O líder mafioso era considerado o "chefe dos chefes" da Cosa Nostra desde a prisão de Bernardo Provenzano (1933-2016), o sucessor do sanguinário Salvatore "Totò" Riina (1930-2017), em 2006.
Messina Denaro procurou tirar a máfia siciliana dos holofotes, também diversificando os investimentos para lavar o dinheiro obtido com atividades criminosas.
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