O exército de Israel assumiu nesta terça-feira (7) o controle do posto de fronteira de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, com o Egito, em meio à ofensiva contra a cidade que se tornou refúgio de palestinos de todo o enclave nos últimos meses.
O posto de fronteira está agora sob poder da 410ª Brigada das Forças de Defesa Israelenses (IDF), após uma operação que, segundo Tel Aviv, matou cerca de 20 milicianos armados. De acordo o exército, o local era usado para "fins terroristas", embora fosse a principal porta de entrada para ajuda humanitária em Gaza.
"Neste momento, não temos nenhuma presença física no posto de fronteira de Rafah porque o Cogat [órgão israelense para os territórios palestinos] nos negou o acesso a essa área", disse um porta-voz do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários.
A ofensiva israelense em Rafah é condenada por diversos países do mundo, incluindo o Brasil e a China, pela própria ONU, que definiu a ação como "intolerável", e pela União Europeia. A cidade abriga hoje mais de 1,2 milhão de pessoas, incluindo 600 mil crianças, segundo o Unicef.
"Pedimos a Israel que pare porque o ataque arrisca fazer ainda mais vítimas inocentes e significa deslocar mais de 1 milhão de pessoas, colocar mulheres, crianças e homens inocentes em uma condição ainda pior", afirmou o ministro da Defesa da Itália, Guido Crosetto.
Por sua vez, o Hamas, que disse ter aceitado uma trégua na Faixa de Gaza, informação refutada por Israel, acusou a "ocupação" de "interromper os esforços de mediação para o cessar-fogo e a libertação de prisioneiros, no interesse pessoal de Netanyahu e seu governo extremista".
O secretário-geral da ONU, António Guterres, cobrou que Israel reabra os postos de fronteira de Rafah e Kerem Shalom, na Faixa de Gaza, ambos fechados inclusive para a entrada de ajuda humanitária.
"Estou chocado e angustiado pela atividade militar israelense em Rafah. O fechamento dos postos de fronteira de Rafah e Kerem Shalom é particularmente danoso para uma situação humanitária já desastrosa", declarou Guterres, acrescentando que os dois locais devem ser "reabertos imediatamente".
"Rafah é o epicentro das operações humanitárias em Gaza, e atacá-la tornaria em vão nossos esforços para apoiar as pessoas em grave dificuldade, enquanto a carestia se aproxima", disse.
O secretário ainda lembrou que "até os melhores amigos de Israel" alertaram que um assalto a Rafah seria "um erro estratégico, uma calamidade política e um pesadelo humanitário".
O posto de fronteira de Kerem Shalom, em Gaza, será reaberto por Israel nesta quarta-feira (8). A informação foi dada pela porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.
Hamas fala em 'última chance' para Israel recuperar refénsUm alto funcionário do grupo fundamentalista islâmico Hamas disse que a atual rodada de negociações no Egito representa a "última oportunidade" para Israel recuperar os reféns mantidos na Faixa de Gaza.
A declaração é dada no dia em que uma delegação israelense desembarcou no Cairo para continuar as negociações sobre a proposta de trégua no conflito deflagrado desde 7 de outubro de 2023.
Além disso, ocorre após o Hamas anunciar que aceitou os termos de uma negociação de cessar-fogo, apesar de o governo do premiê Benjamin Netanyahu negar.
"A delegação do Hamas deixará Doha em breve rumo ao Cairo. As negociações representarão a última oportunidade para Netanyahu e para as famílias [dos reféns] de verem seus filhos retornarem", declarou um funcionário de alto escalão do grupo fundamentalista islâmico à AFP.
O acordo proposto pelo Catar e pelo Egito e aceito pelo Hamas é dividido em três fases e prevê inicialmente a libertação de 33 reféns israelenses durante 42 dias e termina com a reconstrução de Gaza em meio a "um período de calma sustentável", segundo um documento divulgado pela emissora CNN.
Hoje, o porta-voz das Brigadas Al-Qassam, Abu Ubaida, anunciou que uma mulher israelense de 70 anos, identificada como Judy Feinstein, refém do Hamas, "morreu devido aos ferimentos graves sofridos com outro refém em um bombardeio contra o local onde foram detidos há um mês".
Segundo a rádio turca Tnt, a mulher teria morrido "sem os cuidados médicos necessários devido à destruição de hospitais na Faixa de Gaza por Israel".