O governo do Egito tentou obstruir um julgamento em Roma, à revelia, de quatro oficiais de inteligência egípcios acusados de torturar até a morte o estudante italiano Giulio Regeni, em 2016, informaram fontes judiciais nesta quarta-feira (19).
Segundo relatos, as quatro principais testemunhas de acusação foram proibidas de responderem a intimação para participar do julgamento na capital italiana.
O Ministério das Relações Exteriores da Itália transmitiu ao procuradores de Roma uma nota da Procuradoria-Geral do Egito afirmando que "é impossível executar pedidos de assistência judicial" para que as quatro testemunhas egípcias sejam ouvidas na audiência no tribunal do bunker de Rebibbia. O documento diz respeito principalmente ao sindicalista Said Abdallah, que supostamente apontou Regeni como espião; o coordenador de um centro para os direitos econômicos e sociais, Hoda Kamel Hussein; e Rabab Ai-Mahdi, tutor de Regeni no Cairo.
Diante disso, o procurador-adjunto Sergio Colaiocco solicitou ao juiz de Primeira Instância que pudesse obter os depoimentos das testemunhas ausentes recolhidos durante a investigação.
"Estamos na presença de testemunhas que não escolheram livremente não estar aqui. Tentamos de tudo para trazer as testemunhas para cá", declarou o promotor.
Segundo a advogada dos pais de Regeni, Alessandra Ballerini, "apesar de todos os esforços do Ministério Público e dos pedidos formais apresentados pela Farnesina, é inegável o obstrucionismo egípcio que neste momento parece intransponível, mas que também devido ao argumentos que ouvimos do procurador são completamente ilegítimos".
O general Tariq Sabir e os coronéis Athar Kamel Mohamed Ibrahim, Uhsam Helmi e Magdi Ibrahim Abdelal Sharif são acusados de sequestro qualificado, homicídio qualificado e lesões corporais qualificadas.
O pesquisador vivia na capital do Egito para preparar uma tese sobre sindicatos independentes para a Universidade de Cambridge, mas desapareceu em janeiro de 2016. Ele havia sido visto pela última vez em uma linha de metrô, e seu corpo só foi encontrado mais de uma semana depois, com evidentes sinais de tortura.
De acordo com o legista Vittorio Finceschi, que realizou a autópsia no corpo de Regeni, o estudante sofreu várias formas de tortura no Cairo, como socos, chutes, queimaduras, espancamentos nas solas dos pés e algemas dolorosas nos pulsos e tornozelos.
O italiano frequentava organizações sindicais clandestinas e contrárias ao presidente autocrata Abdel Fattah al-Sisi, o que levantou a hipótese de crime político.
A acusação diz que os agentes seguiam os passos de Regeni desde o fim de 2015 e o abordaram na noite de 25 de janeiro de 2016, no metrô do Cairo. Em seguida, teriam conduzido o italiano contra sua vontade para uma delegacia e, depois, para um edifício onde ele ficaria nove dias em cativeiro. (ANSA).
Egito tenta obstruir processo por assassinato de italiano
País não permitiu que testemunhas comparecessem em julgamento