(ANSA) - As forças rebeldes jihadistas da Síria anunciaram neste domingo (8) ter derrubado o governo de Bashar al-Assad, cujo paradeiro é desconhecido, após avançarem à capital do país, Damasco.
A guerra na Síria começou em 2011, em um levante contra a ditadura da família Assad, no poder há mais de meio século. A deposição do presidente acontece 24 anos depois dele ter assumido a liderança no território sírio.
Até o momento, o governo sírio não se manifestou sobre a fuga "do tirano" de Assad. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos anunciou que ele deixou o país através do aeroporto de Damasco, antes da retirada dos membros das forças armadas e de segurança do local.
A população civil saiu às ruas para celebrar a queda do governo do regime após 50 anos de governo do Partido Baath, enquanto grupos rebeldes anunciaram o início de uma "nova era" na Síria, enfatizando que o país prepara-se para escrever uma nova página no livro da sua história milenar.
Uma multidão pisoteou a estátua caída do pai de Bashar, Hafez Al Assad, que governou com mão de ferro durante quase 30 anos até 2000.
Depois de entrar em Damasco, as forças da oposição dirigiram-se para o centro da cidade e assumiram o controle da estação pública de rádio e televisão.
Os rebeldes também "libertaram" a prisão militar vizinha de Sednaya, conhecida como "matadouro humano", onde "as portas foram abertas a milhares de detidos que foram presos pelas forças de segurança durante o governo do regime foram soltos", informou o relatório do Observatório Sírio.
Em meio à crise, o primeiro-ministro sírio, Mohammed Ghazi Jalali, disse estar disposto a "estender a mão" à oposição e colaborar com a "liderança" que será eleita pelo povo, enquanto o chefe do grupo jihadista Hayat Tahrir al-Sham, Abu Mohammed al-Jolani, ordenou às suas forças que não se aproximassem das instituições públicas em Damasco, "que permanecerão sob a supervisão do antigo premiê até à sua entrega oficial", segundo publicação no X.
Al-Jalali também destacou que a Síria deveria agora realizar "eleições livres para que o povo possa escolher quem deve liderá-los".
Ao mesmo tempo, o Exército sírio e as forças de segurança do país abandonaram o aeroporto da capital. A tomada de Damasco ocorreu após uma marcha triunfal inesperada, que começou há apenas 10 dias na remota região noroeste de Idlib, na fronteira com a Turquia, que devastou o governo e redutos russos e iranianos, como Aleppo e Hamã.
O comandante-chefe das Forças Democráticas Sírias, coligação dominada por milicianos curdos, saudou o momento "histórico" da queda de Assad. "Estamos vivendo momentos históricos na Síria ao testemunharmos a queda do regime ditatorial em Damasco", anunciou o comandante Mazloum Abdi em comunicado.
De acordo com a imprensa local, Assad voou ontem à noite de Damasco para a base aérea russa de Hmeimim, na província de Latakia, na Síria, com a intenção de seguir para Moscou. No entanto, o avião teria desaparecido do radar após alguns minutos de voo.
"Há uma grande probabilidade de que ele tenha morrido no acidente de avião", disseram fontes sírias à Reuters, segundo a mídia.
Apesar do relato, a Rússia afirmou que o ditador sírio deixou seu país e ordenou uma "transição pacífica de poder".
Reações
Após a tomada de poder na Síria, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que Assad "fugiu" do país porque perdeu o apoio do seu protetor russo, o líder Vladimir Putin.
Segundo Trump, Moscou "perdeu todo o interesse na Síria por causa da Ucrânia, onde quase 600 mil soldados russos estão feridos ou mortos em uma guerra que nunca deveria ter começado e que pode durar para sempre".
Paralelamente, a Casa Branca anunciou que o "presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e a sua equipe estão acompanhando de perto os acontecimentos extraordinários" na Síria e "permanecem em contato constante com parceiros regionais". Para o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, a queda de Assad foi o resultado direto dos ataques de Israel ao Hezbollah, grupo terrorista baseado no Líbano que conta com o apoio do Irã.
Já a alta representante da União Europeia (UE) para a Política Externa, Kaja Kallas, reforçou que "o fim da ditadura de Assad é um desenvolvimento positivo e há muito esperado" e "também demonstra a fraqueza dos apoiantes de Assad, a Rússia e o Irã".
"A nossa prioridade é garantir a segurança na região.
Trabalharei com todos os parceiros construtivos, na Síria e na região", escreveu ela no X. (ANSA).