(ANSA) - Em meio à pior onda de casos de Covid-19 na Itália desde o início da pandemia, o presidente Sergio Mattarella fez nesta sexta-feira (31) o último discurso de fim de ano de seu mandato e procurou passar uma mensagem de esperança.
Perto de deixar o cargo, o chefe de Estado falou durante cerca de 15 minutos em cadeia nacional de rádio e televisão e não tentou disfarçar o tom de despedida, embora há quem defenda sua manutenção.
"Caras concidadãs, caros concidadãos, sempre vivi esse tradicional compromisso de fim de ano com muito envolvimento e com um pouco de emoção. Hoje esses sentimentos são ainda maiores pelo fato de que, em poucos dias, como manda a Constituição, terminará meu mandato como presidente", disse Mattarella.
O jurista ocupa o principal cargo institucional da Itália desde 3 de fevereiro de 2015 e, de acordo com a Constituição, o Parlamento precisa escolher um substituto até 3 de fevereiro de 2022.
O nome mais cotado é o do premiê Mario Draghi, o que, no entanto, poderia abrir uma nova crise política e provocar até eleições antecipadas, já que dificilmente outro primeiro-ministro conseguiria manter de pé uma coalizão que vai da esquerda à extrema direita.
"Foram sete anos trabalhosos, complexos, densos de emoções", acrescentou o chefe de Estado, citando o terrorismo, os desastres naturais e a pandemia do novo coronavírus, que produziu cenas dramáticas no país.
"Nos últimos dias, voltei meu pensamento àquilo que vivemos juntos nos últimos dois anos: a pandemia que chacoalhou o mundo e nossas vidas. Unamo-nos mais uma vez em torno das famílias das tantas vítimas, seu luto foi, e é, o luto de toda a Itália", salientou.
No entanto, apesar dos longos períodos de isolamento e da recente explosão dos casos provocada pela variante Ômicron, a Itália teve um 2021 melhor que 2020 na pandemia: se no ano passado foram 74.159 vítimas da Covid no país, em 2021 foram 63.243, sendo a maior parte ainda no primeiro trimestre.
Além disso, a Itália viu sua economia iniciar um percurso de recuperação, em meio à promessa de um aporte de quase 200 bilhões de euros em recursos da União Europeia, e ostenta um dos maiores índices de vacinação no bloco, com quase 80% da população com o primeiro ciclo de imunização concluído.
"Encontramos dentro de nós mesmos as ferramentas para reagir, para reconstruir. Esse caminho começou. Será longo e não estará imune a dificuldades, mas as condições econômicas do país tiveram uma recuperação além das expectativas", declarou o presidente.
Esperança
De acordo com Mattarella, a Itália está "pronta para receber o novo ano" e vive um "momento de esperança". "Olhemos para frente, sabendo que o destino da Itália também depende de cada um de nós. Muitas vezes falamos de uma nova temporada de deveres. Muitas vezes ressaltamos que só se sai das dificuldades se cada um aceita fazer sua parte até o fim", declarou.
Também não faltou um recado para os antivacinas, em um país onde cerca de 6 milhões de pessoas a partir de 12 anos não tomaram sequer a primeira dose de imunizantes anti-Covid.
"A pesquisa e a ciência nos deram essa oportunidade [das vacinas] muito antes do que se poderia esperar. Desperdiçá-la é também uma ofensa a quem não teve essa oportunidade e a quem ainda hoje não consegue tê-la. As vacinas salvaram milhares de vidas e reduziram bastante a periculosidade da doença", afirmou.
Mattarella recordou a "sensação de impotência e desespero" vivida nos primeiros meses da pandemia diante de cenas dramáticas, como "os caixões transportados por veículos militares", o lockdown, as escolas fechadas e os "hospitais em colapso". "O que não daríamos, naqueles dias, para ter a vacina?", questionou.
O presidente está com 80 anos de idade e encerrará um mandato marcado pela defesa da estabilidade institucional. Em sete anos no Palácio do Quirinale, nomeou quatro primeiros-ministros para cinco governos diferentes: Matteo Renzi, Paolo Gentiloni, Giuseppe Conte (duas vezes) e Mario Draghi.
Em pelo menos três ocasiões, foi pressionado a antecipar eleições legislativas, mas sempre se recusou para evitar o que, em seu discurso de fim de ano, chamou de "saltos no escuro".
Diversos políticos já manifestaram o desejo de ver o chefe de Estado reeleito, algo que só aconteceu uma vez na história da República Italiana, porém ele indicou que não quer um novo mandato. (ANSA)
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