(ANSA) - O líder do partido de extrema-direita Liga, Matteo Salvini, voltou a defender publicamente que o atual premiê da Itália, Mario Draghi, permaneça em sua atual função e não seja indicado à Presidência da República.
A partir dessa segunda-feira (24), o colégio eleitoral - formado por 620 deputados, 321 senadores e 58 delegados regionais - iniciará a votação para definir quem será o substituto de Sergio Mattarella.
"Tirar Draghi da presidência do Conselho [de Ministros] seria perigoso. Seria perigoso porque a Itália está em um momento difícil para reinventar um novo governo de maioria, pararia o país por dias e dias. A Liga não quer isso", disse o ultranacionalista e um dos principais articuladores de nomes para a posição após uma reunião com delegados regionais.
A posição de Salvini é a mesma, ao menos publicamente, dos aliados do Força Itália (FI), de Silvio Berlusconi, que foi bastante claro em sua carta de renúncia à candidatura presidencial que Draghi deve ficar onde está.
No entanto, a principal aliada de Salvini, Giorgia Meloni, presidente do Irmãos da Itália (FdI), é a principal defensora da mudança de Draghi do Palácio Chigi para o Quirinale. A representante da extrema-direita lidera o partido que, segundo pesquisas de opinião, está na frente na preferência dos italianos e, caso novas eleições fossem antecipadas, seria provavelmente quem poderia se tornar premiê.
Quem também se reuniu com grandes eleitores neste domingo foi o líder do Partido Democrático (PD), Enrico Letta, e que deixou em aberto a possibilidade de Draghi ser o novo presidente.
"Draghi representou para a Itália um extraordinário recurso e a tarefa de todos nós é preservá-lo. Draghi é uma das hipóteses sobre a mesa e me assombrou ver Berlusconi que disse 'não' para Draghi na presidência - e hoje Salvini confirmou isso. Nós conversaremos dele com os aliados e com os representantes de centro-direita para entender qual é a posição real deles e se isso é definitivo", disse Letta à emissora "RAI3".
O líder do PD ainda deu a entender que o partido e seus aliados mais próximos - a coalizão Livres e Iguais (LeU) e o Movimento 5 Estrelas (M5S) - devem votar em branco na primeira sessão.
"Com os 5 Estrelas e o LeU podemos ser incisivos. É uma relação positiva, construtiva, que prosseguirá nesses dias. Juntos, hoje comunicamos um compromisso para falar com todas as forças políticas em um caminho que chegará na terça-feira ou na quarta-feira em um nome conjunto", afirmou Letta referindo-se à reunião da manhã desse domingo.
O representante da maior força da centro-esquerda italiana ainda voltou a dizer que sua sigla apresentará um "lista de nomes um melhor que outro" e ironizou que quem deve escolher o nome do novo presidente seja a coalizão de centro-direita.
"O último mês foi sui generis. O debate todo foi em torno de um grande erro de que a centro-direita tinha números para definir sozinha quem seria o presidente. Não entendo como eles caíram nisso. Não há maioria nesse Parlamento e a única [maioria] hoje é aquela que apoia o governo. Nós falamos não para a decisão deles e fizemos bem", disse Letta sobre a escolha de Berlusconi.
Letta ainda aproveitou para dizer que Mattarella fez uma "obra de arte" durante os sete anos em que ficou à frente da função de presidente.
Outro político que realizou uma série de encontros nesse domingo foi o ex-premiê Giuseppe Conte, líder do M5S, e que também reafirmou a união com PD e LeU.
"Nós temos a consciência que os números entre as forças políticas pedem um amplo diálogo que supere problemas para atingir uma ampla maioria. Nós celebramos que temos uma oportunidade para individualizar um candidato de alto perfil que garanta unidade no país", disse durante assembleia com os grandes eleitores.
Conte falou abertamente que não vê problemas em apoiar um candidato que seja sugerido pela coalizão de centro-direita, mas que o M5S se mantém firme em "não apoiar candidatos de bandeira partidária que provoquem o risco de não serem do quadro que identificamos".
"Nós não queremos dar força e um selo de legitimidade a qualquer força política. Não temos nenhum veto prévio, mas claramente as propostas fazem-nos ficar em alerta. E essa [eleição] nos põe em uma posição complexa e mais desconfortável que as outras. As cartas para jogar, para nós, são limitadas", acrescentou destacando que não veta o nome de Draghi também.
Eleição
Para ser eleito o novo presidente da Itália, um candidato precisa obter dois terços dos 1009 votos disponíveis (673), mas esse patamar vale apenas para os três primeiros escrutínios.
Se o pleito chegar até a quarta votação, passa a ser necessária apenas a maioria simples (505).
Essa diferença é uma maneira de incentivar os partidos a buscar um consenso o mais amplo possível. A maior questão é que o atual governo tem como base um grande espectro de orientações políticas e ideológicas, que vão da extrema-direita à centro-esquerda e, dos grandes partidos, apenas o FdI não faz parte da coalizão.
Há diversos nomes sendo cotados, mas nenhum é abertamente defendido. Neste fim de semana, um nome que ganhou força foi o do historiador e professor universitário Andrea Riccardi, 72 anos.
O estudioso já foi ministro para a Cooperação Internacional e Integração durante o governo de Mario Monti (2011-2012) e é um dos fundadores da organização católica dedicada à caridade, à promoção da paz e à evangelização Comunidade Santo Egídio.
Porém, nem bem foi citado, já foi considerado ruim pelo ex-premiê italiano Matteo Renzi, líder do Itália Viva (IV), que também faz parte da base de governo. (ANSA).