(ANSA) - A reeleição de Sergio Mattarella como presidente da Itália, confirmada pelo Parlamento neste sábado (29), rachou o bloco de direita, que fracassou na tentativa de eleger um chefe de Estado do campo conservador.
A principal força política do país atualmente é uma coalizão chamada pela imprensa local de "centro-direita", mas que inclui só um partido moderado, o Força Itália (FI), de Silvio Berlusconi, e dois ultranacionalistas: a Liga, do senador Matteo Salvini, e o Irmãos da Itália (FdI), da deputada Giorgia Meloni.
Essa aliança governa a maioria das regiões italianas e detinha o maior número de votos no colégio eleitoral que escolhe o presidente da República (cerca de 450 de um total de 1.009), porém não se mostrou unida nos momentos decisivos que levaram à reeleição de Mattarella.
Ao longo das últimas semanas, a coalizão tentou emplacar diversos nomes do campo conservador, como o ex-premiê Silvio Berlusconi, o jurista Carlo Nordio, a vice-governadora da Lombardia, Letizia Moratti, e o ex-senador Marcello Pera.
A tentativa derradeira foi com a presidente do Senado, Elisabetta Casellati (FI), fiel aliada de Berlusconi e que, no quinto escrutínio, na última sexta-feira (28), obteve apenas 382 votos, muito aquém dos 450 que a aliança deveria ter no Parlamento.
O resultado expôs a fragilidade da coalizão e sua incapacidade de eleger um presidente sem apoio de outras forças. Salvini ainda tentou propor a candidatura da chefe dos serviços secretos, Elisabetta Belloni, que tinha o apoio do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), mas acabou barrado pelo Força Itália.
Informações de bastidores dão conta de que Salvini e o coordenador do partido de Berlusconi, Antonio Tajani, chegaram à beira das vias de fato na noite da última sexta.
Tajani teria acusado Salvini de tê-lo enganado ao prometer avaliar uma possível candidatura do senador de centro Pier Ferdinando Casini, sendo que depois o líder da Liga apareceria na frente das câmeras de TV falando de uma "mulher" como presidente.
A discussão terminou com o Força Itália decidindo prosseguir as negociações de modo independente, fora do âmbito do bloco de direita. A ruptura forçou Salvini a aceitar a reeleição de Mattarella, já que ele corria o risco de ficar isolado dentro da coalizão de união nacional que sustenta o governo de Mario Draghi.
Com isso, quem ficou sozinho foi o FdI, que é a única grande força de oposição ao atual premiê. "Salvini propôs pedir para Mattarella fazer um novo mandato como presidente da República. Não quero acreditar nisso", declarou Meloni ainda antes da votação final.
"A direita parlamentar não existe mais, é preciso recriá-la do zero, por respeito às pessoas que querem mudar", acrescentou. Segundo a deputada, a "única coisa" sobre a qual o bloco de direita concordava na noite de sexta era o "não" a Mattarella.
"Hoje descubro que as posições mudaram. Os italianos que vão julgar", ressaltou.
Pressão
Desde 2018, quando foi alçado ao cargo de ministro do Interior no primeiro governo de Giuseppe Conte, Salvini é o líder inconteste do bloco de direita, mas nos últimos meses ele vem sofrendo uma crescente pressão de Meloni, cujo partido já supera a Liga nas pesquisas.
A ascensão da deputada pode ser explicada pelo fato de o FdI ser o único grande partido de oposição ao governo Draghi, concentrando em si o apoio dos descontentes com o premiê, que vão desde desempregados e autônomos afetados pela pandemia até grupos antivacinas.
Já Salvini e a Liga, que nadaram de braçada no campo conservador até 2020, agora enfrentam dificuldades para manter o discurso populista enquanto fazem parte de um governo de união nacional e de claro viés europeísta.
"Meloni disse 'não' a Draghi e hoje diz 'não' a Mattarella. Uma escolha legítima", declarou Salvini neste sábado, fazendo a ressalva de que é preciso promover uma "reflexão" na direita.
Por sua vez, Tajani, ao menos em público, tentou contemporizar e disse que o bloco conservador não é um "partido único". "Existem momentos em que os partidos agem cada um por conta própria, nós já estamos no governo de modo diferente", afirmou. (ANSA)
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