(ANSA) - A crise no partido antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) deve se aprofundar ainda mais após o tribunal de Nápoles suspender as duas sessões partidárias que culminaram na aprovação do novo estatuto da sigla e a eleição de Giuseppe Conte como presidente, informam membros da sigla nesta segunda-feira (7).
O advogado Lorenzo Borrè, que defendeu os três membros da legenda que impetraram o recurso, afirmou que "foram zerados todos os cargos do Movimento 5 Estrelas" e que agora "volta a vigorar o velho estatuto e é preciso nomear o novo Comitê Diretor".
"Foi retomada a democracia no interior do Movimento 5 Estrelas. Os verdadeiros derrotados são [Giuseppe] Conte, [Roberto] Fico e [Luigi] Di Maio e todos têm as mesmas responsabilidades políticas. Voltamos ao estatuto feito em fevereiro de 2021 e daqui precisamos retomar. Desejamos que os erros de todos sejam reconhecidos", disse Steven Hutchinson, um dos três ativistas, à ANSA.
A medida foi anunciada como "cautelar" e deve ampliar o racha entre grandes nomes do partido. Apoiadores do recurso contra Conte ouvidos pelo jornal italiano "Corriere della Sera" também comemoraram a decisão, mesmo sem saber ao certo o que vai acontecer daqui para frente - se haverá uma batalha judicial ou um entendimento interno para tentar conter a crise.
Ainda conforme o "Corriere", os juízes aceitaram os recursos porque "houve graves vícios no processo de decisão", incluindo a exclusão de cerca de um terço dos inscritos na votação e a falta consequente de quórum. Na época, cerca de 80 mil inscritos não puderam votar por problemas em registros e quase 114 mil votaram.
As eleições de agosto do ano passado foram marcadas por muita tensão antes do pleito em si, com uma crise entre Conte e o cofundador do M5S, o comediante Beppe Grillo. Os dois conseguiram fechar um acordo cerca de um mês antes da votação, em que o ex-premiê seria o presidente do movimento e responsável por sua linha política e Grillo seria "garantidor e protetor dos princípios".
Após a disputa, que deu vitória a Conte com mais de 90% dos votos, o partido viveu uma relativa calmaria pública, com pequenos pontos de desacordo, mas que voltou a ser duramente interrompida por conta das negociações entre os partidos para a eleição do novo presidente no fim de janeiro.
Depois de oito escrutínios, o escolhido foi novamente Sergio Mattarella, mas o desgaste da semana de votação ficou evidente.
O maior embate foi entre Conte e o atual ministro das Relações Exteriores da Itália, Luigi Di Maio, que trocaram críticas públicas. Segundo fontes, o ministro teria negociado "nas costas" do líder da sigla, primeiro pelo nome do atual premiê Mario Draghi, depois pela chefe dos serviços secretos, Elisabetta Belloni.
No último sábado (5), o chanceler informou que renunciava ao cargo de membro do Conselho de Garantias e que acreditava que "dentro de uma força política é essencial dialogar".
Em entrevista ao jornal "La Stampa", pouco antes da decisão judicial em Nápoles, afirmou que ficou "surpreso" com as declarações de Di Maio contra ele, mas despistou e disse não saber "o que Di Maio fez concretamente" nas negociações.
Crise no M5S
O M5S surgiu com grande força no cenário político italiano ao quebrar a hegemonia da alternância de poder entre esquerda e direita. Em março de 2018, com menos de 10 anos de existência, a sigla obteve 32% dos votos e tornou-se a primeira legenda antissistema a vencer uma disputa nas urnas.
Três meses após a vitória, o M5S formou uma coalizão de governo com a Liga, de Matteo Salvini, mas a aliança fez com que muitos eleitores progressistas se afastassem do M5S. Em 2019, o governo com os ultranacionalistas foi rompido por Salvini para tentar forçar eleições antecipadas, mas a sigla de Grillo fez uma mudança inesperada e se uniu ao seu maior rival até então: o centro-esquerda Partido Democrático.
Com a nova coalizão, foi a vez daqueles que se aproximaram do M5S pelos discursos eurocéticos se afastarem. Além disso, com a queda de Conte do cargo de premiê, em 2021, a sigla apoiou e faz parte da grande coalizão - que vai da centro-esquerda à extrema-direita - que sustenta Mario Draghi, um verdadeiro símbolo do establishment europeu.
Apesar de ainda ter a maior bancada parlamentar, o M5S aparece apenas como quarta força entre os partidos italianos, atrás da legenda de extrema-direita Irmãos da Itália (FdI), PD e Liga, com menos de 20% das intenções de votos. (ANSA).