(ANSA) - Um dia depois de um tribunal de Nápoles suspender o estatuto e a eleição de Giuseppe Conte como presidente do Movimento 5 Estrelas (M5S), um dos confundadores do partido antissistema, Beppe Grillo, pediu "respeito" à decisão e "silêncio" em público dos líderes da sigla.
"As sentenças devem ser respeitadas. A situação, não podemos negar, é muito complicada. Nesse momento, não podemos tomar decisões precipitadas. Promoverei um momento de debate também com Giuseppe Conte. Durante esse tempo, convido a todos a permanecer em silêncio e a não tomarem medidas arriscadas antes que haja uma posição conjunta no caminho a seguir", postou Grillo em sua página no Facebook nesta terça-feira (8).
A decisão dos magistrados veio após três membros do M5S entrarem na Justiça contra o processo de votação ocorrido em agosto do ano passado. O juiz aceitou o recurso afirmando que "houve graves vícios no processo de decisão" e apontou como o principal dos problemas a exclusão de cerca de 80 mil correligionários no dia da eleição e aprovação do documento.
O M5S tem uma proposta de "inclusão" de todos os membros e as suas decisões são sempre votadas de forma virtual - à época, com a plataforma Rousseau - com a participação dos ativistas inscritos.
Mas, a própria plataforma usada pela legenda era alvo de uma disputa judicial entre Grillo e o filho do outro cofundador da sigla, Davide Casaleggio, por conta de questionamento feitos pelo órgão que gere a Privacidade na Itália. No início de junho, após um acordo, Casaleggio deixou o M5S atacando Grillo e Conte.
Por conta do imbróglio, os votos foram feitos pela plataforma Sky Vote.
A direção do partido, então, alegou que os excluídos tinham problemas nos registros dessa nova plataforma e, dos quase 195 mil eleitores, "apenas" 114 mil votaram de fato. Para a Justiça, isso não daria o quórum estabelecido pelo antigo estatuto para permitir que a eleição continuasse.
"Lembro que Grillo, em um comunicado de 29 de junho, disse que as votações devem ser feitas no Rousseau porque é isso que prevê o estatuto que voltou a entrar em vigor. Ele mesmo escreveu isso para evitar impugnações. Então, a nova votação deve ser feita pela plataforma Rousseau, e digo isso sendo o sujeito mais distante da associação do Casaleggio", afirmou o advogado dos três ativistas, Lorenzo Borrè, à "Radio 24".
Conte e Di Maio
Além da briga sobre o estatuto e a eleição de Conte, o M5S sofre com uma disputa interna entre o ex-premiê e o ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, que no fim de semana até deixou um cargo dentro da direção do partido.
Os dois trocaram críticas públicas por conta do processo de debates que terminou com a reeleição de Sergio Mattarella. Di Maio teria trabalhado pela eleição de nomes que não eram endossados por Conte nos bastidores, como a condução do atual primeiro-ministro, Mario Draghi, para a Presidência ou a escolha da diretora dos serviços secretos Elisabetta Belloni.
Questionado na entrevista se o chanceler estaria por trás desse processo de Nápoles, Borrè afirmou que "evocar uma coisa dessas é ofensivo para todos" e que a iniciativa foi dos três clientes napolitanos defendidos por ele.
Crise no M5S
O M5S surgiu com grande força no cenário político italiano ao quebrar a hegemonia da alternância de poder entre esquerda e direita em março de 2018.
Com menos de 10 anos de existência, a sigla obteve 32% dos votos e tornou-se a primeira legenda antissistema a vencer uma disputa nas urnas. Três meses após a vitória, o M5S formou uma coalizão de governo com a Liga, de Matteo Salvini, mas a aliança fez com que muitos eleitores progressistas se afastassem do M5S.
Em 2019, o governo com os ultranacionalistas foi rompido por Salvini para tentar forçar eleições antecipadas, mas a sigla de Grillo fez uma mudança inesperada e se uniu ao seu maior rival até então: o centro-esquerda Partido Democrático.
Com a nova coalizão, foi a vez daqueles que se aproximaram do M5S pelos discursos eurocéticos se afastarem.
Além disso, com a queda de Conte do cargo de premiê, em 2021, a sigla apoiou e faz parte da grande coalizão - que vai da centro-esquerda à extrema-direita - que sustenta Draghi, um verdadeiro símbolo do establishment europeu.
Apesar de ainda ter a maior bancada parlamentar, o M5S aparece apenas como quarta força entre os partidos italianos, atrás da legenda de extrema-direita Irmãos da Itália (FdI), PD e Liga, com menos de 20% das intenções de votos. (ANSA).