União Europeia

Saiba quais são os próximos passos para resolver crise na Itália

Após Mattarella rejeitar renúncia, Draghi consultará Parlamento

Redazione Ansa

(ANSA) - A crise política se instalou na Itália nesta quinta-feira (14) com o anúncio do premiê Mario Draghi de que iria deixar o cargo após um dos partidos da base, o Movimento 5 Estrelas (M5S), boicotar uma votação no Senado sobre um pacote de ajuda financeira para famílias e empresas.

Apesar do texto ter passado com ampla maioria (172 a 39), a decisão do M5S deu a entender que a sigla que não confia mais no governo - já que a proposta foi submetida por meio do voto de confiança. Por isso, Draghi anunciou durante a reunião do Conselho de Ministros (CdM) que iria deixar a função porque o boicote "foi muito significativo do ponto de vista político".

No entanto, ao seguir o trâmite de entregar a renúncia formalmente nas mãos do presidente do país, Sergio Mattarella, Draghi ouviu do chefe de Estado que o pedido estava sendo rejeitado e que deveria fazer consultas ao Parlamento para verificar se há a possibilidade de continuar com o mandato.

A decisão está de acordo com a Constituição italiana e, como Draghi ainda possui uma maioria de parlamentares o apoiando, Mattarella considerou a entrega da situação ao Parlamento como o passo "mais democrático e transparente", segundo fontes do Quirinale.

Após a decisão do mandatário, Draghi conversou por telefone com o presidente da Câmara dos Deputados, Roberto Fico (M5S), que está em isolamento por ter contraído Covid-19, e pessoalmente com a líder do Senado, Maria Elisabetta Alberti Casellati (Força Itália). Também já foi anunciada para a próxima segunda-feira (18) uma reunião dos líderes das forças políticas para definir os passos dentro da Câmara.

Já a consulta formal com os partidos está marcada para a quarta-feira (20). Mas, o que acontece a partir de então?

No dia 20, todas as siglas políticas precisarão anunciar de maneira aberta e clara seu posicionamento sobre a permanência ou não de Draghi no cargo. Com isso, a ampla base que deu sustentação ao premiê desde o início do mandato em fevereiro de 2021 precisará definir seu posicionamento.

Atualmente, a base conta com o populista M5S, o centro-esquerda Partido Democrático (PD), o centrista Itália Viva (IV), o centro-direita Força Itália (FI) e o ultranacionalista Liga.

Com exceção do M5S, causador da atual crise, todos os demais se manifestaram sobre a renúncia de Draghi antes da decisão de Mattarella.

O PD e o IV disseram claramente que querem um "Draghi-bis" o mais rápido possível e já se articulam com a aliança de esquerda Livres e Iguais (LeU) e com o grupo liderado pelo chanceler Luigi Di Maio (ex-membro do M5S que deixou o grupo por brigas com Giuseppe Conte) para um novo governo do atual premiê.

Já dois dos partidos do chamado "bloco de centro-direita", FI e Liga ficaram em cima do muro. Representantes do partido de Silvio Berlusconi - que sempre defenderam o nome do ex-presidente do Banco Central Europeu - falaram em "gratidão" e criticaram o M5S por ter causado a crise.

A sigla de Matteo Salvini, por sua vez, soltou uma nota que pode ser encarada de maneira dúbia: mesmo dizendo que apoia "que seja restituída a palavra aos italianos", ou seja, deve-se ir às urnas rapidamente, o comunicado ressalta que "é impensável que a Itália deva ficar semanas paralisada em um momento dramático".

Pela Constituição, a dissolução do atual governo e a realização de eleições demoraria cerca de 60 dias.

Também parte do "bloco de centro-direita", mas fora do governo, a sigla ultranacionalista Irmãos da Itália (FdI) cobrou que eleições sejam convocadas imediatamente. O partido de Giorgia Meloni é indicado como o líder das pesquisas de intenção de votos, com cerca de 20% a 23%.

Nenhum cenário está descartado para a quarta-feira: Draghi poderá obter novamente o voto de confiança da mesma coalizão, incluindo o M5S. Ou poderá ainda ter o voto de confiança de uma ampla maioria sem os populistas, o que é uma possibilidade bastante clara dado o apoio que o ex-presidente do BCE tem. Mas, nesse caso, o próprio premiê já se manifestou contrário, dizendo que só seguiria se mantivesse a mesma coalizão.

Caso a crise no Parlamento não chegue a um acordo, a questão retornará para Mattarella e há apenas dois cenários possíveis.

No primeiro, o mandatário indica um nome para fazer um governo técnico até as eleições agendadas para o primeiro trimestre do ano que vem (fevereiro ou março) - o que é visto como uma ação que pode trazer mais instabilidade por conta das atuais crises somadas: guerra na Ucrânia, pandemia de Covid-19, alta de preço de alimentos e combustíveis e possível problemas no fornecimento de energia.

O segundo seria a antecipação das eleições para o fim de setembro ou início de outubro para a formação de uma nova legislatura que, segundo as pesquisas atuais, vão redimensionar completamente as forças políticas italianas.

Segundo os últimos levantamentos nacionais, as intenções de voto mostram o FdI com cerca de 20% a 23% do apoio dos eleitores. O PD aparece logo atrás, em empate técnico, com 20% a 22%. A terceira força é a Liga, com 14% a 15,5%. O M5S - que foi o mais votado no último pleito em 2018 com cerca de 30% dos votos - é apenas a quarta força, com um percentual de 10% a 12%. O FI é o quinto com 7% a 10%. (ANSA).
   

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