União Europeia

Jornal revela contatos entre Rússia e partido de Salvini

Ministro e ex-premiê cobraram esclarecimentos do senador

O senador e secretário federal da Liga, Matteo Salvini

Redazione Ansa

(ANSA) - A Embaixada da Rússia na Itália manteve contatos com a Liga, partido de ultradireita liderado pelo senador Matteo Salvini, dois meses antes da queda do premiê Mario Draghi.

A informação foi publicada nesta quinta-feira (28) pelo jornal La Stampa, que relatou conversas entre Oleg Kostyukov, citado como um "importante funcionário da embaixada russa", e Antonio Capuano, assessor de Salvini para assuntos internacionais.

Citando documentos de inteligência, o jornal disse que os dois mantiveram contato no fim de maio, quando tanto a Liga quanto o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) tentavam impedir o governo italiano de enviar mais armas para a Ucrânia.

De acordo com o "Stampa", Kostyukov perguntou a Capuano se os ministros da Liga no governo tinham intenção de renunciar a seus cargos. Quase dois meses depois, o partido boicotaria um voto de confiança no Senado, assim como o M5S e o conservador Força Itália (FI), de Silvio Berlusconi, provocando a queda de Draghi.

Kostyukov teria sido, segundo o jornal, o responsável por comprar as passagens de uma missão de Salvini a Moscou, viagem depois cancelada pelo senador, que garante que os bilhetes foram bancados pela Liga.

O diário também lembra que, em seu último discurso no Senado, Draghi reclamou de "tentativas de enfraquecer o apoio do governo à Ucrânia e a oposição ao projeto do presidente Putin".

Apesar de condenar a atual guerra na Ucrânia, Salvini sempre teve posições pró-Kremlin, e a Liga chegou a assinar um acordo de cooperação com o Rússia Unida, partido que dá sustentação ao regime Putin.

Além disso, aliados do senador são investigados por suspeita de negociar repasses russos para a Liga, algo que ele nega veementemente.

Em 2015, Salvini vestiu uma camiseta com o rosto de Putin durante um discurso do presidente da Itália, Sergio Mattarella, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, e escreveu no Facebook que "trocaria dois Mattarellas por meio Putin".

Reações

Em declaração à Radio 24, Salvini disse que as informações publicadas pelo "Stampa" são "bobagens" resultantes de uma "fantasia".

"Eu trabalhei e trabalho pela paz e para tentar parar essa maldita guerra. Até parece que vou falar de ministros, me parece a costumeira fantasia sobre Putin, fascismo, racismo, nazismo, soberanismo", declarou.

Além disso, acusou "alguns jornais" de fazerem "campanha eleitoral" e afirmou ser vítima de "fake news". "Nós estamos com o Ocidente e a democracia", reforçou, agora em um congresso de agricultores. Por sua vez, a Embaixada da Rússia na Itália não comentou a reportagem.

Já o ministro italiano das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, dissidente do M5S, cobrou esclarecimentos de Salvini. "São questões muito preocupantes", disse o chanceler, alertando para possíveis "influências russas na campanha eleitoral".

O ex-premiê Enrico Letta, líder do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, afirmou que as revelações feitas pelo "Stampa" são "inquietantes" e que a campanha para as eleições de 25 de setembro "começa da pior maneira possível". "Queremos saber se foi Putin que derrubou o governo Draghi", acrescentou.

Salvini e Liga fazem parte da coalizão conservadora que é favorita à vitória nas eleições, ao lado do Força Itália e do ultranacionalista Irmãos da Itália (FdI), partido de Giorgia Meloni. (ANSA)

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