União Europeia

Migrantes: Itália diz que reação da França é 'desproporcional'

Governo francês anunciou série de medidas por bloqueio de barco

Redazione Ansa

(ANSA) - O ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, afirmou nesta quinta-feira (10) que a reação da França na atual crise de migrantes é "desproporcional".

O governo italiano se negou a receber o barco Ocean Viking, da ONG SOS Mediterranee, com 234 pessoas a bordo por mais de duas semanas e a tripulação decidiu zarpar em direção à França, que confirmou o acolhimento "excepcional" após a "incompreensível" atitude de Roma.

Nesta quinta, porém, o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, anunciou uma série de medidas em represália, como a suspensão do recebimento de 3,5 mil migrantes até o fim do verão de 2023 e o reforço nos controles de fronteira com a Itália, por onde muitas pessoas estrangeiras em situação irregular tentam atravessar.

"A reação da França me pareceu desproporcional em relação ao caso. Nós temos cerca de 90 mil chegadas e temos um acordo para redistribuir cerca de oito mil. Até agora, só 117 pessoas foram redistribuídas. Agora são 234 pessoas que estão chegando na França e é preciso enfrentar o assunto com maior serenidade - e se pode e se deve achar soluções em nível europeu", disse Tajani após uma série de reuniões em Amsterdã, nos Países Baixos.

Os números citados pelo ministro referem-se a dois dados: o total de migrantes que chegaram ao país em 2022, que somam mais precisamente 89,2 mil, conforme o Ministério do Interior com informações atualizadas até o dia 7 de novembro, e um novo acordo assinado por 13 países da União Europeia em junho deste ano para a realocação de migrantes - que não considera aqueles que já deixaram a Itália antes disso.

Conforme o pacto de junho, são 10 mil as pessoas que serão beneficiadas pelo "Mecanismo Voluntário de Solidariedade" e os italianos serão os mais ajudados com 3,5 mil deslocamentos nesse sentido. Já França e Alemanha foram as que se comprometeram a receber migrantes, com 3,5 mil e 3 mil, respectivamente.

Apesar das reclamações italianas, considerando o que ocorre nos últimos anos, a maior parte das pessoas que chega por meio do Mar Mediterrâneo à Itália costuma seguir viagem rumo a países ao norte, como a Alemanha e a própria França. Até agosto, essas nações contabilizavam 238,7 mil e 134,4 mil solicitantes de refúgio, respectivamente, de acordo com o gabinete de estatísticas da União Europeia, contra 61,8 mil da Itália.

"Há pessoas que querem vir à Itália e nós estamos prontos a cuidar delas, mas nem todos podem ficar na Itália. Sobre a redistribuição não foi feito muito e por isso precisamos encontrar soluções com determinação. As polêmicas não servem para nada, mas podemos achar uma solução com a África", acrescentou ainda.

Ministro do Interior 

A mesma linha de reclamação foi adotada pelo titular do Ministério do Interior, Matteo Piantedosi, que disse que a situação é "incompreensível".

"A reação que a França está tendo sobre o pedido de acolher 234 migrantes é totalmente incompreensível perante aos contínuos pedidos de solidariedade devida a essas pessoas. Mas, mostra também como é a postura das outras nações perante à migração ilegal, que é firme e determinada. Aquilo que não entendemos é a razão pela qual a Itália precisa aceitar de bom grande qualquer coisa que os outros não querem aceitar", disse Piantedosi.

O fato da Itália receber mais migrantes via Mar Mediterrâneo que outros países deve-se à questão do território ficar mais próximo de países como Tunísia e Líbia, portos de saída de milhares de barcos clandestinos. Pelas leis do direito marítimo internacional, as pessoas resgatadas no mar devem ser levadas ao porto mais próximo para recebimento. 

França 

Nesta tarde, o ministro do Interior da França, Gérald Darmanin, voltou a criticar as autoridades italianas por não acolher os 234 migrantes a bordo do navio Ocean Viking, da ONG SOS Mediterranee, e afirmou que o país foi “muito desumano”.

"A situação a bordo do Ocean Viking é muito grave, já evacuamos quatro para Bastia e foram levados para o hospital, há 57 crianças, algumas estão muito doentes. Nesta situação, a Itália foi muito desumana", declarou Darmanin, durante o programa de notícias TF1.

O ministro francês acrescentou que "as autoridades italianas nem sequer foram profissionais”, porque “deixaram este navio durante 20 dias sem comunicar qualquer decisão”.

Além disso, anunciou que 500 policiais franceses já se encontram na fronteira italiana para controlar melhor a nossa fronteira". (ANSA)

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