(ANSA) - O jornalista e escritor Roberto Saviano, jurado de morte pela máfia Camorra por causa de seus livros e reportagens sobre o crime organizado, cancelou sua participação em dois eventos no Teatro Valli de Reggio Emilia, na Itália.
Em carta enviada à fundação que administra o teatro, o italiano, que ia apresentar seu novo livro "Solo è il coraggio" sobre o juiz antimáfia Giovanni Falcone - assassinado em atentados da máfia Cosa Nostra -, explicou que "desistiu" porque "viver em ocasiões públicas nessas semanas é difícil" e ressaltou que a "exposição física o preocupa e aos que estão ao seu redor porque o ódio é tangível e não há escudo".
"Desisto, nestas semanas de ataques contínuos, por medo de expor vocês, de expor meus anfitriões: esta responsabilidade me pesa muito. E a sinto ainda mais porque vejo a distância estelar de aqueles que, de posições de vir, ele poderia tomar partido, expressar uma opinião e, em vez disso, permanecer em silêncio", acrescentou.
A decisão foi tomada "depois de semanas difíceis" após o início do julgamento contra o escritor, sob proteção policial desde que publicou "Gomorra" (2006), por acusação de difamação da nova primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni.
Segundo o escritor, "os jornais de extrema direita, em alguns casos pagos diretamente por membros da maioria parlamentar, atacam diariamente: estou em suas primeiras páginas todos os dias, atacado da forma mais vil e covarde, sem realmente ser protegido do que deveria em vez disso, uma opinião pública amigável", ressaltou no documento.
Na carta, Saviano reforça que, além do processo após a denúncia de Meloni, e do qual participou o atual ministro de Infraestrutura, Matteo Salvini, também recebeu ameaças de denúncias judiciais do ministro da Cultura, Gennaro Sangiuliano, por suas críticas aos membros do governo.
"Por um lado há uma conduta feroz de difamação, de isolamento, por outro lado prudência, distinção, esclarecimentos, medo, silêncio por conveniência. Isso gera solidão. Felizmente sei que não estou sozinho: sinto o solidariedade de quem me lê, de quem apoia as ideias que expresso e de alguns dos meus colegas, os mais valentes (poucos, entre os escritores, o são)", lamentou.
Por fim, o jornalista italiano enfatizou que "quem deveria defender espaços de liberdade e de democracia está empenhado em esconder os escombros de um percurso político, cultural e intelectual que não foi capaz de criar pontes, mas apenas desintegração".
"Não sou um mártir, mas um escritor e pelo que está acontecendo comigo pode-se entender a deriva do país", concluiu. (ANSA).