União Europeia

Pressão da América Latina exclui Zelensky de cúpula UE-Celac

Presidente da Ucrânia não comparecerá à cúpula

Redazione Ansa

(ANSA) - Por Alejandro Di Giacomo - O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, não estará presente na cúpula de chefes de Estado e de governo da União Europeia (UE) e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) nos próximos dias 17 e 18 de julho, em Bruxelas, após as objeções feitas por países do bloco latino.

Uma fonte do governo argentino disse à ANSA neste sábado (15) que "a Ucrânia não faz parte da UE ou da Celac" e destacou que "a questão da guerra em Kiev, para vários membros da Celac, não tem nada a ver com as questões a serem avaliadas na cúpula de Bruxelas".

"Mas a decisão foi do bloco", enfatizou o informante.

A mesma informação também surgiu de Bruxelas. Extra-oficialmente, um dos representantes do bloco anfitrião confirmou que o presidente ucraniano, que participou há alguns dias da cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), na Lituânia, não comparecerá.

A União Europeia tem outro olhar. Bruxelas destaca que esta é a primeira cúpula com a Celac em oito anos e que ambas as regiões estão alinhadas, mas destaca que a guerra na Ucrânia causou "insegurança alimentar e aumento da inflação" e que "tudo isso provavelmente será discutido na cúpula", então a presença de Zelensky fazia sentido.

No entanto, a imprensa de Buenos Aires afirma que as pressões da Venezuela, Nicarágua e Cuba foram decisivas para excluí-lo.

"Os ditadores Nicolás Maduro, Daniel Ortega e Miguel Díaz Canel, aliados da Rússia, resistiram à presença dele. O governo argentino havia dito que essa decisão deveria ser tomada pelo bloco latino-americano-caribenho", escreveu o portal de notícias Infobae.

Vários países do bloco latino-americano mantêm estreitas relações econômicas e políticas com a Rússia e, por exemplo, o chanceler russo, Sergei Lavrov, visitou a Venezuela, Nicarágua, Cuba e Brasil semanas atrás. Nesse contexto, condenar a guerra na Ucrânia teria gerado um "conflito de interesses".

O Brasil também é membro do bloco BRICS (juntamente com Rússia, Índia, China e África do Sul). De fato, este último país vai acolher a cúpula dessa associação em agosto e acaba de pedir ao Kremlin que Vladimir Putin desista de comparecer devido ao mandado de prisão contra ele, expedido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, está tentando ansiosamente ser neutro. Mas recentemente seu governo recebeu Lavrov. Além disso, em maio, durante a cúpula do G7 em Hiroshima, ele evitou um encontro bilateral com Zelensky, citando um cronograma apertado.

Lula chegou a afirmar em recente passagem pela Europa que "Zelensky é tão responsável quanto Putin" pela guerra.

Na última quarta-feira, em conversa online com alunos da Universidade de Buenos Aires (UBA), o líder ucraniano havia cobrado uma maior intervenção da América Latina para Putin cessar seus ataques.

"Precisamos da sua ajuda. Os povos e países da América Latina podem fazer muito para defender o direito de cada povo à liberdade. E para isso não é necessário interferir na guerra", exigiu Zelensky.

Precisamente, a guerra na Ucrânia é um dos temas mais espinhosos em discussão para o documento final da cúpula UE-Celac, sobre o qual os líderes trabalham há dias sem conseguir chegar a um acordo. "Vamos conseguir, mas ainda estamos longe de fechar um documento", disse um diplomata argentino.

A Europa pretende incluir violações de direitos humanos na Venezuela, Cuba e Nicarágua, questões relacionadas a políticas ambientais e defesa de valores democráticos. A Celac resiste.

Zelensky estava disposto a participar desta tão esperada cúpula para fortalecer sua estratégia na América Latina para ganhar apoio político e mais auxílio em uma parte do mundo onde ele sabe que a influência de Moscou está muito presente.

Bruxelas -como Washington- tende a convidar continuamente o líder de Kiev para fóruns internacionais, em um claro sinal de forte apoio na guerra com a Rússia. Mas, pode-se dizer que a UE foi um pouco menosprezada em relação à posição latino-americana. (ANSA).
   

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