(ANSA) - O empresário Flavio Briatore causou a ira dos napolitanos ao tentar justificar o motivo das pizzas de sua rede de restaurantes serem tão caras e a duvidar da qualidade dos produtos usados pelos estabelecimentos da cidade do sul do país.
Há dois dias, o italiano usou suas redes sociais para falar sobre as reclamações sobre o preço da rede Crazy Pizza - que cobra a partir de 14 euros a unidade, sendo a maioria dos sabores entre 20 e 30 euros.
Segundo o empresário, em um longo vídeo nas redes sociais, a sua empresa "parte do raciocínio: precisamos colocar sempre os melhores ingredientes possíveis e imagináveis do mercado" e começou a citar quanto paga no quilo de alguns produtos usados.
"Não usamos muito fermento, pouquíssimo, assim não fermenta. Ao contrário dos amigos pizzaiolos que dizem que é muito fina... eles te dão um tijolo de pizza com um lago de molho de tomate e acaba ali. Por que vocês não se perguntam como eles fazem para vender uma pizza a 4 ou 5 euros? O que esses senhores colocam ali, nessas pizzas?", ironizou ainda dizendo que se eles "não vendem 50 mil pizzas por dia ou mais, há algo que não entendo".
A resposta da Associação dos Pizzaiolos Napolitanos, por meio do presidente Sergio Miccú, foi imediata.
"O problema não é por quanto se vende uma pizza de lagosta azul, mas quanto é justo vender uma margherita ou uma marinara com ingredientes de qualidade. A pizza contribuiu para matar a fome de gerações inteiras, superando as crises mais duras das cidades que as viveram. Da guerra à cólera. Mas, hoje se trata de um prato e, por isso, as clássicas conservam também os valores da tradição. Aquelas feitas por chefs viram outra coisa que podem ser vendidas a qualquer preço", afirmou Miccú.
Além da resposta formal, diversos pequenos pizzaiolos de Nápoles decidiram protestar e venderam pizzas por 4 euros nesta terça-feira (21).
Um dos que aderiu à manifestação foi a histórica Pizzeria Sorbillo, considerada há anos a melhor da cidade italiana e que está em funcionamento desde 1935. Além da margherita por 4 euros, aulas práticas para os cidadãos foram dadas em frente a pizzaria para fazer uma marinara e para "ensinar e explicar como nasce um produto muito barato, mas saudável e verdadeiro".
O atual dono da pizzaria, Gino Sorbillo, disse que Briatore "fez uma polêmica estúpida" e que a "pizza nasceu como prato popular e assim deve permanecer".
"Para nós, é um prazer trabalhar com o povo e deixar todos felizes, todos - crianças, desempregados, trabalhadores e aposentados. Perante uma pizza todos são iguais e todos devem poder comê-la", acrescentou.
O conselheiro regional e presidente da Comissão de Agricultura da Campânia, Francesco Emilio Borrelli, afirmou que "sobre a pizza napolitana não aceitamos lições de ninguém que sequer tem um título para fazê-la".
"Provavelmente, Briatore começou essa polêmica para fazer publicidade, mas com a sua maneira, ofendeu esse produto que é enorme e enaltecido em todo o mundo, com bilhões de pessoas que matam sua fome com preços populares", pontuou ainda Borrelli.
O autor do livro "Diritto alla Pizza" e curador do projeto Universidade da Piza, Angelo Pisani, pontuou ainda que as falas de Briatore mostram o quanto "ainda é preciso proteger a secular tradição da pizza napolitana".
"A pizza é um patrimônio da humanidade e um símbolo da Itália, ainda sendo um verdadeiro e real ícone de Nápoles. A pizza é ainda a palavra italiana mais famosa do mudo. Se é verdade que existam muitos estilos de pizza e que houve uma pesquisa que levou para níveis incríveis de excelência uma comida tradicionalmente pobre, é também verdade a história de abusos, sobretudo, na identidade da própria pizza napolitana", disse ainda.
Em 2017, a Unesco reconheceu a "Arte dos Pizzaiolos Napolitanos" como um dos patrimônios imateriais e culturais da humanidade. (ANSA).