(ANSA) - A Constituição Federal do Brasil, que completa 35 anos em 2023, ganhou sua primeira tradução para uma língua indígena, o nheengatu, chamado de Língua Geral Amazônica e derivado do tupi.
A nova versão da Carta Magna foi patrocinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e o projeto foi coordenado pelo presidente da Biblioteca Nacional, o ítalo-brasileiro Marco Lucchesi, que definiu a iniciativa como "divisora de águas, com alto valor simbólico e político".
O lançamento oficial ocorreu em cerimônia na última quarta-feira (19), na sede da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, onde o nheengatu é língua oficial.
A presidente do STF, ministra Rosa Weber, concebeu a ideia durante uma viagem ao Vale do Javari, local dos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips.
"É um símbolo do nosso compromisso de garantir que todos os povos indígenas tenham acesso à justiça e conhecimento das leis que regem nosso país, fortalecendo sua participação na vida política, social, econômica e jurídica. Preservar e valorizar a diversidade linguística brasileira é fundamental para a construção de uma sociedade plural e inclusiva", declarou.
"A Constituição não é meramente um texto escrito, mas sim um sentimento, enquanto alicerce da nossa democracia. As Constituições são textos vivos e precisam que todos a conheçam e contribuam para transformar-lhes as palavras em realidade", acrescentou Weber, lembrando que a Carta Magna de 1988 reconheceu a legitimidade de comunidades e organizações indígenas diante do Judiciário.
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e a presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Joenia Wapichana, também participaram do lançamento. A versão contou com 15 tradutores e um grupo de especialistas linguísticos e será preservada na Biblioteca Nacional, além de estar disponível para leitura online. (ANSA).