(ANSA) - O primaz da Igreja Ortodoxa da Rússia, Cirilo, isentou o país de culpa na guerra da Ucrânia e responsabilizou os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) pela eclosão do conflito.
Pressionado por representantes de outras religiões a condenar a invasão, o patriarca de Moscou enviou uma carta ao Conselho Mundial de Igrejas (WCC, na sigla em inglês), entidade ecumênica que reúne diversas denominações cristãs, e mais uma vez mostrou alinhamento com o regime de Vladimir Putin.
"Esse conflito não começou agora. Estou firmemente convencido de que seus promotores não são os povos da Rússia e da Ucrânia, que são unidos em uma fé comum e compartilham um destino histórico. As origens do confronto residem nas relações entre o Ocidente e a Rússia", escreveu Cirilo.
Segundo o líder ortodoxo, nos anos 1990, após a dissolução da União Soviética, a Rússia recebeu a promessa de que sua "segurança e dignidade seriam respeitadas". "Mas, ano após ano, mês após mês, os Estados-membros da Otan reforçaram sua presença militar, ignorando as preocupações da Rússia", acrescentou.
Cirilo também afirmou que os países da Otan tentaram tornar russos e ucranianos "inimigos". "Não pouparam esforços nem fundos para inundar a Ucrânia de armas e instrutores de guerra. No entanto, a coisa mais terrível é a tentativa de 'reeducar', de transformar mentalmente os ucranianos e russos que vivem na Ucrânia em inimigos da Rússia", disse.
De acordo com o patriarca, a guerra na Ucrânia é "parte da estratégia geopolítica em larga escala desenvolvida, em primeiro lugar, para enfraquecer a Rússia. E agora os líderes ocidentais estão impondo sanções econômicas à Rússia, mostrando claramente suas intenções: levar sofrimento não apenas aos líderes políticos ou militares russos, mas ao povo russo. A russofobia está se disseminando no mundo ocidental em ritmo sem precedentes", concluiu Cirilo.
O patriarca havia se pronunciado pela primeira vez sobre o conflito no último dia 6 de março, durante um sermão pelo Domingo do Perdão. Na ocasião, ele disse que o Donbass, região da Ucrânia onde ficam as autoproclamadas repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk, é um bastião contra o "mundo do consumo excessivo e da liberdade visível" representado pelo Ocidente e pelas "paradas gays", por isso precisaria ser defendido.
Em resposta ao sermão, o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, segundo na hierarquia da Cúria Romana, afirmou que as palavras de Cirilo "não favorecem e não promovem o entendimento". "Pelo contrário, arriscam inflamar ainda mais os ânimos e de caminhar rumo a uma escalada", disse.
O papa Francisco, por sua vez, já condenou a guerra em inúmeras ocasiões e recusou-se a tratar a invasão como uma "operação especial", como diz o Kremlin. Antes da guerra, o Vaticano e a Igreja Ortodoxa da Rússia negociavam a realização de um encontro entre Bergoglio e Cirilo, mas as divergências sobre o conflito russo-ucraniano agora ameaçam as tratativas. (ANSA)
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