Vaticano

Ucraniana e russa carregam cruz juntas, mas Vaticano corta texto

Redazione Ansa

(ANSA) - Duas amigas, uma ucraniana e outra russa, protagonizaram nesta sexta-feira (15) o momento mais aguardado da Via Crucis celebrada pelo papa Francisco no Coliseu de Roma, capital da Itália.

Após dois anos sendo realizado no Vaticano devido à pandemia de Covid-19, o evento que repete o caminho de Jesus Cristo no dia de sua crucificação e morte voltou ao seu palco tradicional, desta vez tendo como tema as famílias, e recebeu cerca de 10 mil pessoas.

A cruz foi carregada pelas 14 estações da Via Crucis por diferentes núcleos familiares, como um casal de jovens, dois cônjuges idosos sem filhos, uma família com um filho com deficiência, uma família adotiva e uma viúva e seus filhos.

Na 13ª estação, que aborda a morte de Jesus, a cruz foi encarregada à enfermeira ucraniana Irina e à pós-graduanda russa Albina, que se tornaram amigas no Centro de Tratamentos Paliativos do Campus Biomédico de Roma, onde trabalham.

A embaixada da Ucrânia na Santa Sé chegou a protestar contra a inclusão de uma russa na Via Crucis, mas o Vaticano decidiu manter a participação de Albina, embora tenha alterado o roteiro da celebração.

De acordo com uma prévia divulgada durante a semana, estava prevista a leitura de uma meditação preparada a quatro mãos pela ucraniana e pela russa, assim como acontece em todas as paradas da Via Crucis. No entanto, o texto acabou cortado.

"Diante da morte, o silêncio é mais eloquente do que as palavras. Portanto, paremos em um silêncio de oração, e cada um de nós reze no coração pela paz no mundo", disse o narrador das meditações da Via Crucis.

De acordo com o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, essa era uma "mudança prevista" e serviu para "limitar o texto ao mínimo" para que as pessoas pudessem "se entregar ao silêncio e à oração".

Texto original

A meditação que havia sido preparada por Irina e Albina buscava lembrar como tudo pode mudar "em poucos segundos". "A existência, os dias, brincar com a neve de inverno, ir buscar os filhos na escola, o trabalho, os abraços, as amizades... Tudo. Inesperadamente, tudo perde valor", dizia o texto divulgado pelo próprio Vaticano.

"Acordamos de manhã e sentimo-nos felizes por alguns segundos, mas logo a seguir pensamos como será difícil reconciliar-nos. Senhor, onde estais? Falai no silêncio da morte e da divisão e ensinai-nos a fazer a paz, a ser irmãos e irmãs, a reconstruir aquilo que as bombas teriam querido aniquilar", acrescentava.

Na última terça (12), a embaixada ucraniana na Santa Sé havia expressado "preocupação" com a participação de uma cidadã russa na Via Crucis no Coliseu e tentou explicar as "dificuldades" dessa ideia ao Vaticano.

Além disso, algumas emissoras católicas ucranianas de rádio e TV, como UGCC e EWTN, não transmitiram o evento ao vivo como forma de protesto.

A polêmica ocorre no momento em que o Papa cogita viajar a Kiev para passar uma mensagem de paz. Seus discursos desde o início da guerra têm sido claramente pró-Ucrânia, e o líder católico chegou a exibir uma bandeira do país europeu durante uma audiência com fiéis no Vaticano.

Além disso, condenou o "massacre" de civis na cidade de Bucha, nos arredores de Kiev, e criticou a "impotência" da ONU para interromper o conflito. (ANSA)

Leggi l'articolo completo su ANSA.it