(ANSA) - A Igreja Ortodoxa da Rússia criticou nesta quarta-feira (4) a entrevista dada pelo papa Francisco ao jornal "Corriere della Sera" e afirmou que o líder católico "deturpou a sua conversa com o patriarca Cirilo". A declarações foram dadas para a agência de notícias russa Tass.
"É lamentável que um mês e meio após a conversa com o patriarca Cirilo, o papa Francisco tenha escolhido o tom errado para transmitir o conteúdo dessa conversa. Tais declarações não devem contribuir para o estabelecimento de um diálogo construtivo entre católicos romanos e russos ortodoxos", disse o Departamento para Relações Externas da Igreja do Patriarcado de Moscou em nota oficial.
A conversa virtual entre os dois líderes ocorreu em 16 de março e, mesmo nas declarações oficiais daquele dia, já era possível ver as diferenças gritantes entre Cirilo e Francisco apesar de ambos dizerem querer trabalhar pela paz. O russo, por exemplo, continua a apoiar a guerra iniciada por Vladimir Putin - ele sequer usa o termo bélico para chamar o conflito - enquanto o argentino defende a todo o custo o cessar-fogo.
Na entrevista ao jornal italiano, porém, Jorge Mario Bergoglio deixou as diferenças ainda mais acentuadas ao dizer que "o patriarca não pode se transformar no coroinha de Putin".
"Falei com Cirillo por 40 minutos via zoom. Nos primeiros 20, com uma carta nas mãos, ele leu todas as justificativas para a guerra. Escutei e lhe disse: 'Não entendo nada disso. Irmão, não somos clérigos de Estado, não podemos utilizar a linguagem da política, mas sim a de Jesus. Por isso, devemos buscar caminhos de paz, fazer cessar o fogo das armas", afirmou à publicação.
Os dois tinham ainda um segundo encontro pessoal previsto para 14 de junho, mas a reunião foi cancelada até que a guerra na Ucrânia e a situação local se estabilizassem. Esse seria apenas a segunda vez em mais de mil anos que os líderes das duas denominações religiosas se reuniriam.
Kremlin
Na entrevista, Francisco ainda revelou que pediu um encontro formal com Putin, mas que estava sendo ignorado pelo Kremlin. Segundo o líder católico, os canais diplomáticos do Vaticano continuam a tentar a reunião.
Nesta quarta, porém, o governo russo emitiu uma nota curta e direta sobre o tema dizendo que "não há nenhum acordo para um eventual encontro" entre os dois líderes.
Conforme disse ao "Corriere", Bergoglio não quer fazer uma visita a Kiev, capital da Ucrânia, sem se reunir antes com Moscou para não passar uma mensagem errada durante a viagem.
Na tarde desta quarta, o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, afirmou que a Santa Sé espera uma resposta de Putin sobre encontro.
"A esse ponto, não há mais nenhum passo a fazer. Fizemos a oferta de disponibilidade do Santo Padre de ir para Moscou, de encontrar pessoalmente o presidente Putin e agora esperamos eles reagirem e dizerem o que querem. Mais do que isso não acredito que o Santo Padre possa fazer", disse aos jornalistas. (ANSA).