Vaticano

Indígenas do Canadá cobram Igreja às vésperas de chegada do Papa

Segundo nativos, ainda há 'muito a se fazer'

Papa Francisco fará viagem para o Canadá

Redazione Ansa

(ANSA) - Representantes de povos nativos do Canadá afirmaram nesta sexta-feira (22), às vésperas da visita do papa Francisco ao país, que a Igreja Católica ainda tem "muito a fazer" para garantir reparação aos indígenas.

A viagem apostólica acontece entre 24 e 30 de julho, na esteira da descoberta de valas comuns com centenas de corpos não identificados em antigos internatos administrados pela Igreja no Canadá.

As primeiras covas foram encontradas em maio de 2021, no terreno de uma antiga escola de Kamloops, na província ocidental da Colúmbia Britânica, expondo as feridas nunca curadas da cristianização forçada de povos indígenas canadenses.

"Queremos que a verdade sobre o que aconteceu nas escolas residenciais seja compartilhada com o público. Todo mundo precisa saber o que aconteceu conosco", declarou Randy Ermineskin, chefe da tribo Ermineskin Cree, em uma coletiva conjunta com outros líderes indígenas em Edmonton, uma das etapas da visita do Papa.

"É preciso ter justiça. É preciso haver uma oportunidade para os malfeitos serem consertados", reforçou George Arcand Jr., representante de uma confederação de Primeiras Nações (do inglês "First Nations", como são chamados os povos nativos do Canadá).

De acordo com ele, o pedido de desculpas feito por Jorge Bergoglio em abril é um "passo adiante" na busca dos indígenas por reparação. "Mas não acaba aqui, ainda há muito a se fazer. Isso é apenas o começo", acrescentou.

As chamadas escolas residenciais tinham como objetivo "educar" os nativos de acordo com os preceitos católicos, mas, para isso, retiravam crianças à força de suas comunidades e as obrigavam a abandonar seus costumes e sua língua.

Além disso, os alunos eram vítimas frequentes de abusos sexuais e físicos por parte dos professores. Estima-se que cerca de 150 mil indígenas tenham passado por esses internatos até a década de 1970. Uma dessas escolas, em Maskwacis, será visitada pelo Papa.

"Como sobrevivente, sei que será doloroso. Lembrar dos corredores, das salas, de como fomos tratados, é doloroso", afirmou Randy Ermineskin.

Indígenas canadenses também cobram do Vaticano a restituição de itens como luvas de pele, mocassins decorados e até um raríssimo caiaque que, há dois séculos, era usado para navegar nas águas geladas do rio Mackenzie, no norte do país.

Muitos desses objetos foram enviados a Roma para uma exposição missionária organizada pelo papa Pio XI em 1925, cuja galeria serviu de base para o Museu Etnológico Anima Mundi, que hoje integra os Museus Vaticanos. "Precisamos nos sentar com a Igreja para falar da repatriação [dos itens]", disse Phil Fontaine, da Primeira Nação Sagkeeng, ao site "Hyperallergic".

Roteiro 

Francisco chega em Edmonton, na província de Alberta, em 24 de julho, e no dia seguinte visita a comunidade de Maskwacis, onde se reúne com representantes das Primeiras Nações e dos povos métis e inuit.

Já em 26 de julho, o líder católico celebra uma missa em um estádio de Edmonton e participa de uma peregrinação no Lago Sainte Anne pelo Dia de Santa Ana. No dia 27, o pontífice parte para Québec, capital da região de língua francesa do Canadá, e se reúne com autoridades políticas, civis, indígenas e diplomáticas.

Em 28 de julho, Francisco celebra uma missa no Santuário Nacional de Sainte-Anne-de-Beaupré e depois participa das Vésperas com bispos, padres e outros representantes católicos.

Em 29 de julho, o Papa faz uma reunião privada com membros da Companhia de Jesus e se encontra com uma delegação de indígenas presentes no Québec.

Na parte da tarde, Bergoglio vai a Iqaluit, capital e único município do território de Nunavut, maior região do país em extensão geográfica e também a mais setentrional, com boa parte de sua área situada dentro do Circulo Polar Ártico.

A população de Iqaluit é formada majoritariamente por inuits (56%), esquimós que habitam regiões árticas. Na cidade, Francisco se reúne de forma privada com ex-alunos de antigos internatos católicos e depois participa de um encontro com jovens e idosos.

"Estou para fazer uma peregrinação penitencial e espero que, com a graça de Deus, possa contribuir para o caminho de cura e reconciliação já percorrido", declarou Bergoglio em seu Angelus no último domingo (17). (ANSA)   

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