(ANSA) - O papa Francisco discursou em um congresso em Nur-Sultã, capital do Cazaquistão, nesta quarta-feira (14) e afirmou que líderes religiosos não podem jamais justificar a violência.
A declaração é um recado ao chefe da Igreja Ortodoxa Russa, Cirilo, que é aliado do regime de Vladimir Putin e defensor da invasão à Ucrânia. O patriarca estava com presença marcada no evento, mas acabou desistindo de participar.
"Purifiquemo-nos da presunção de nos sentirmos justos e de não ter nada a aprender com os outros; liberemo-nos daqueles conceitos reducionistas e ruinosos que ofendem o nome de Deus por meio da rigidez, dos extremismos e dos fundamentalismos e o profanam mediante o ódio, o fanatismo e o terrorismo", afirmou o pontífice durante o 7º Congresso de Líderes do Mundo e Religiões Tradicionais, evento promovido pelo governo cazaque.
"Não justifiquemos jamais a violência", acrescentou Jorge Bergoglio, ressaltando que o sagrado não deve ser "instrumentalizado por aquilo que é profano". "O sagrado não é sustentáculo do poder", disse.
Segundo Francisco, "Deus nunca conduz à guerra", e os conflitos devem ser resolvidos por meio do "diálogo" e de "negociações pacientes". Além disso, o Papa alertou que vírus "piores que a Covid", como o ódio, a violência e o terrorismo, continuarão existindo enquanto houver "desigualdades e injustiças".
"O maior fator de risco dos nossos tempos continua sendo a pobreza. Precisamos ficar próximos a todos, mas especialmente aos mais esquecidos, aos marginalizados, às faixas mais frágeis e pobres da sociedade, àqueles que sofrem escondidos e em silêncio, longe dos refletores", declarou.
Francisco também aproveitou a ocasião para defender o acolhimento a migrantes e refugiados e alertou que o mundo vive um "grande êxodo" das áreas mais desfavorecidas para aquelas mais ricas. "Cabe a nós, além de afirmar a inviolabilidade de cada ser humano, ensinar a chorar pelos outros", salientou.
Agenda
Após o discurso, o Papa iniciou uma série de encontros privados com os líderes religiosos presentes no congresso. Na ausência de Cirilo, o pontífice se reuniu por 15 minutos com o metropolita Antonio de Volokolamsk, chefe do departamento de relações externas do Patriarcado de Moscou.
Segundo o representante ortodoxo russo, um encontro entre Francisco e Cirilo "é possível", mas desde que seja "bem preparado". "A coisa mais importante é ter algo no fim, algum apelo, como fizemos em Havana", disse o metropolita.
O Papa e o líder ortodoxo russo já fizeram uma histórica reunião na capital de Cuba em 2016, mas se distanciaram nos últimos meses por causa da guerra na Ucrânia.
Bergoglio fez dezenas de discursos condenando o conflito e o "massacre" contra a população civil ucraniana, enquanto o patriarca de Moscou demonstrou apoio à invasão e culpou o Ocidente pelo conflito.
Francisco e Cirilo chegaram a fazer uma reunião virtual em 16 de março, quando o líder católico disse ao patriarca que ele não poderia se comportar como o "coroinha de Putin".
"É claro que uma expressão desse tipo não é útil para a união entre os cristãos, foi uma surpresa, mas precisamos seguir em frente. É importante que os dois líderes continuem nesse caminho para fazer tudo o que for possível para ajudar as pessoas", ressaltou Antonio de Volokolamsk. (ANSA)
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