(ANSA) - Após a morte e o sepultamento do papa emérito Bento XVI, o mundo vaticano permanece carregado de tensões.
Se a presença de Joseph Ratzinger suavizava os contrastes, agora as divisões entre as duas alas da Cúria - a dos conservadores e aquela mais liberal, próxima ao papa Francisco - emergem mais fortes.
"Existem tensões entre progressistas e conservadores", disse ao jornal italiano La Repubblica o líder dos bispos dos Estados Unidos, Timothy Broglio, representante dos grupos mais tradicionalistas e defensor da ideia de que Jorge Bergoglio possa renunciar.
"Eu vi a dificuldade [de locomoção], o fato de que ele não celebra, são elementos de um trabalho pastoral normal que fazem falta", acrescentou.
Francisco, no entanto, parece ter outra ideia. Além de já ter revelado que deixou uma carta de renúncia em caso de impedimento médico, Bergoglio sancionou nesta semana uma reforma na Diocese de Roma que reforça o papel do papa, que é o bispo da "cidade eterna".
Graças à cadeira de rodas e à fisioterapia, o pontífice não tem as mesmas dores que o forçaram no ano passado a não celebrar algumas missas. Francisco também inaugurou uma fórmula por meio da qual ele faz a homilia, enquanto um cardeal se encarrega da parte da liturgia que deve ser feita de pé.
O Papa ainda se prepara para enfrentar uma cansativa viagem ao Sudão do Sul e à República Democrática do Congo entre o fim de janeiro e o início de fevereiro e, ao longo de 2023, deve visitar Hungria, Portugal e Mongólia. Tudo isso passa a ideia de uma pessoa que ainda não está para deixar o campo.
Quem pode estar perto de fazer as malas é o secretário particular de Ratzinger, arcebispo Georg Ganswein, cujo novo livro faz críticas veladas a Francisco, como pela decisão de afastá-lo do cargo de prefeito da Casa Pontifícia, em 2020.
"Fiquei chocado e sem palavras, me senti um prefeito pela metade", diz o arcebispo no livro, salientando que o próprio Bento XVI brincou com o caso. "Acho que o papa Francisco não confia mais em mim e quer que você seja o meu guardião", disse Ratzinger, segundo seu secretário particular.
Comenta-se no Vaticano que Ganswein pode assumir uma nunciatura (representação diplomática do Vaticano) na América Latina ou na Ásia, ou um cargo em alguma universidade católica no exterior.
Mas isso não muda o fato de que o pontífice terá de lidar com essa ala conservadora da Igreja, como o cardeal alemão Gerhard Muller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e crítico de Francisco.
Em entrevista à imprensa americana, o cardeal questionou a inclinação do Papa por convocar sínodos sobre os mais variados temas, como o papel dos leigos, o sacerdócio feminino e o acolhimento a casais gays.
"Somos um partido ou uma ONG para mudar de ideia com base em uma consulta popular?", questionou. (ANSA)
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