(ANSA) - Durante uma longa entrevista à agência argentina Infobae, o papa Francisco voltou a lembrar da importância de seu amigo de longa data, o cardeal brasileiro Cláudio Hummes (1934-2022), no momento em que o conclave que o levaria para o comando da Igreja Católica estava sendo realizado.
Questionado sobre o que lembrava desse processo e sobre as diferentes correntes de votação dentro da Igreja, o pontífice disse que queria "fazer uma homenagem a um grande amigo".
"O cardeal Hummes, que estava sentado atrás de mim e me procurou na primeira votação, me disse: 'não tenhas medo, assim é a obra do Espírito Santo'. Isso me emocionou porque ele morreu há pouco tempo e eu gostava muito dele. E quando na segunda eleição eu fui eleito, cheguei a dois terços e ainda acompanhava o escrutínio, aí todos me aplaudiram. Ele se levantou, me abraçou e me disse 'não se esqueça dos pobres'". Isso me tocou", afirmou.
Para o líder católico, o brasileiro "era um grande tipo, um grande homem". "Era um grande homem. Ele morreu há alguns meses.
Era silencioso, mas marcava presença. Bom, os pobres e o que conheço é São Francisco. Francisco, ponto. Quando o cardeal [Giovanni Battista] Re me perguntou 'qual nome o senhor vai escolher?', eu lhe disse 'Francisco', ponto", relatou ainda.
O repórter ainda perguntou para Jorge Mario Bergoglio se ele sabia quem fez campanha contra ele durante o conclave, ao que ele respondeu que "não" e que "se eu começar a imaginar, corro o risco de caluniar, então melhor nem fazer" disse entre risadas.
Também revelou que não votou em si mesmo, mas que não foi atrás de quem optou por ele.
América Latina
O papa Francisco ainda foi questionado sobre questões políticas na América Latina e criticou governos ditatoriais.
Sobre a Venezuela, ao ser questionado se via alguma "luz de esperança que possa modificar o regime", o líder católico se manifestou otimista. "Acredito que sim porque são as circunstâncias históricas que vão obrigar a maneira do diálogo que eles têm. Acredito que sim, ou seja, eu nunca fecho portas a possíveis soluções - ao contrário, as fomento", pontuou.
Por mais de uma vez, o Vaticano se colocou disponível para intermediar as conversas entre o regime de Nicolás Maduro e a oposição. Atualmente, as negociações ocorrem com a participação da Noruega, Cuba e, recentemente, do Brasil no México.
O líder também foi questionado sobre a Nicarágua, na qual o governo de Daniel Ortega vem atuando contra organizações humanitárias e educacionais internacionais, incluindo católicas, e prendendo opositores e religiosos.
"Com muito respeito, não tem como não pensar que existe um desiquilíbrio na pessoa que comanda [Ortega]. Temos um bispo preso, um homem muito sério, muito capaz. Quis dar seu testemunho e não aceitou o exílio. É uma coisa muito fora do que estamos vivendo, é como se fosse trazer a ditadura comunista de 1917 ou a hitleriana de 1935, trazer para cá as mesmas... são um tipo de ditaduras grosseiras", pontuou. (ANSA).