(ANSA) - O jornal oficial do Vaticano "L'Osservatore Romano" qualificou como "loucura" as acusações contra o papa João Paulo II feitas por Pietro Orlando, irmão da jovem Emanuela Orlandi desaparecida desde 1983, que afirmou que o agora santo saía à noite em busca de jovens.
"Loucura. E não estamos dizendo isso porque Karol Wojtyla é um santo ou porque foi Papa. Embora estre massacre midiático entristeça e machuque o coração de milhões de crentes e não crentes, a difamação deve ser denunciada porque é indigna de um país civilizado tratar assim qualquer pessoa, viva ou morta, seja clérigo ou leigo, Papa, metalúrgico ou jovem desempregado", diz a publicação da Santa Sé, assinada pelo diretor editorial do Dicastério para a Comunicação, Andrea Tornielli.
O artigo recorda ainda que Pietro Orlandi foi ao programa de televisão "DiMartedì" e destacou, "sem provas, pistas, testemunhos, constatações ou circunstâncias", que João Paulo II costumava deixar o Vaticano à noite com alguns bispos para procurar jovens em Roma.
Na ocasião, Orlandi garantiu que dentro do Vaticano se sabia que o então Pontífice polonês se reunia com monsenhores para deixar o local e que há quem diga que "não ia propriamente abençoar casas".
Além disso, o irmão de Emanuela mandou reproduzir uma gravação em que uma fonte, aparentemente ex-integrante da Banda Magliana, máfia romana das décadas de 1970 e 1980, reafirmava essa tese.
"Provas? Nenhuma. Indicações? Nenhuma. Pelo menos testemunhas de segunda ou terceira ordem? Nem mesmo a sombra. Apenas acusações anônimas e infames", acrescentou o jornal.
Por fim, Tornielli reconhecer que "é justo que todos respondam pelos possíveis crimes" e que "se façam investigações 360 graus para apurar a verdade" após o desaparecimento da jovem italiana.
"Ninguém merece ser caluniado desta forma, sem um único traço de evidência, baseado em 'diz-se' ou algum personagem desconhecido do submundo do crime ou um comentário anônimo divulgado ao vivo na televisão", concluiu.
Entenda o caso -
Emanuela Orlandi, 15, é filha de um funcionário da Santa Sé, cidadã do Vaticano, e residia dentro dos muros do menor país do mundo. Ela desapareceu em 22 de junho de 1983 enquanto voltava para casa.
Diversas hipóteses foram consideradas nas últimas décadas, desde crime comum até vingança contra seu pai ou contra o Vaticano. O filme "A verdade está no céu" (2016), de Roberto Faenza, cogita que Orlandi tenha sido sequestrada por mafiosos e jogada em uma betoneira. Nenhuma das hipóteses, no entanto, foi confirmada pela Justiça.
Em 2019, o Vaticano chegou a abrir um inquérito para apurar se ossadas encontradas em um imóvel da Igreja Católica pertenciam à desaparecida, mas o caso foi encerrado no ano seguinte, uma vez que os restos mortais eram anteriores ao fim do século 19. No entanto, a investigação sobre o desaparecimento em si foi arquivada em outubro de 2015, a pedido do então procurador Giuseppe Pignatone, agora presidente do Tribunal Vaticano.
Em novembro de 2022, a exibição da série "A Garota Desaparecida do Vaticano", pela Netflix, voltou a colocar holofotes no sumiço da adolescente e cartazes com o rosto de Emanuela voltaram a ser vistos nas ruas de Roma. Já em janeiro deste ano, Diddi abriu uma nova investigação sobre o caso após uma série de pedidos apresentados por Pietro. (ANSA).