(ANSA) - O papa Francisco criticou neste sábado (23), em um discurso em Marselha, na França, a disseminação de "propagandas alarmistas" sobre uma suposta "invasão" de migrantes na União Europeia.
O pontífice visitou a cidade francesa para participar de um encontro de bispos do Mar Mediterrâneo, região que vive o agravamento de uma crise migratória e humanitária que já dura quase uma década.
"Duas palavras ressoaram, alimentando o medo das pessoas: 'invasão' e 'emergência'. Mas quem arrisca a vida no mar não invade; busca acolhimento, busca uma vida", declarou o Papa no evento Encontros Mediterrâneos.
"Quanto à emergência, o fenômeno migratório não é tanto uma urgência momentânea, sempre boa para espalhar propagandas alarmistas, mas sim um fato dos nossos tempos, um processo que envolve três continentes e que deve ser governado com sabedoria e olhar de longo prazo, com uma responsabilidade europeia", disse.
Francisco também afirmou que a solução contra a "terrível praga da exploração de seres humanos não é rejeitar, mas garantir, segundo as possibilidades de cada um, um amplo número de entradas legais e regulares, sustentável graças a um acolhimento equilibrado por parte do continente europeu". "Dizer 'basta' é fechar os olhos", acrescentou.
Apenas a Itália já recebeu 132,9 mil migrantes forçados via Mediterrâneo em 2023, quase o dobro do número registrado no mesmo período do ano passado, segundo o Ministério do Interior.
O aumento dos fluxos migratórios vem provocando caos e superlotação recorrentes na ilha italiana de Lampedusa, porta de entrada para deslocados internacionais na UE devido à sua proximidade em relação à África.
O agravamento da crise fez o governo da premiê Giorgia Meloni aprovar medidas que restringiram o trabalho de ONGs de socorro marítimo e reforçaram o sistema de repatriação. Em discurso na Assembleia Geral da ONU nesta semana, a primeira-ministra italiana pediu que a organização declarasse uma "guerra global" contra os coiotes do Mediterrâneo.
O Papa, por sua vez, apontou em seu discurso em Marselha que a região deve voltar a ser "laboratório de paz". "O Mediterrâneo expressa um pensamento comunitário. Precisamos muito disso na situação atual, na qual nacionalismos antiquados e beligerantes querem destruir o sonho da comunidade das nações. Com as armas, se faz a guerra, não a paz", disse.
Em sua passagem por Marselha, Francisco também visitou uma obra de caridade da Igreja Católica, se reuniu com organizações que prestam socorro a migrantes no Mediterrâneo e se encontrou com o presidente da França, Emmanuel Macron, alvo de críticas no país por ter participado de um evento religioso. (ANSA)
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