(ANSA) - Por Manuela Tulli - A eleição de Javier Milei para a presidência da Argentina levanta grandes interrogações sobre as futuras relações entre o país latino-americano e a Santa Sé.
Durante a campanha eleitoral, Milei dirigiu repetidas acusações pesadas e insultos ao papa Francisco. Insultos que levaram os padres das "villas", as periferias de Buenos Aires, a realizar missas de reparação.
Alguns bispos argentinos também haviam condenado as declarações de Milei, mantendo, no entanto, certa neutralidade na campanha eleitoral.
É evidente que, ao passar dos comícios eleitorais para a fase de governo, as atitudes podem se suavizar em direção a posições mais conciliatórias.
No entanto, a nova Argentina ultraliberal parece, no mínimo, afastar a possibilidade de uma viagem do Papa à sua terra natal.
Recentemente, se cogitava, mais pelos meios de comunicação argentinos do que pelo Vaticano, a possibilidade de uma visita em 2024.
Mas é necessário, além do convite da Igreja local, que já foi formalizado em uma carta algumas semanas atrás, o convite também das instituições do país.
A Santa Sé não comenta no momento o resultado. Conforme o costume, relatam fontes do Vaticano, aguarda-se o momento da posse, marcado para 10 de dezembro.
Mas é difícil pensar que a mensagem enviada a todos os neo-presidentes eleitos em seus países possa diferir em tom daqueles que normalmente são enviados: ou seja, o desejo de diálogo e promoção do bem comum, conforme o estilo da Santa Sé.
Durante sua campanha eleitoral, Milei afirmou que o Papa tem "afinidade com comunistas assassinos" e o chamou de "representante do maligno na terra".
Ao encerrar os comícios, sua equipe também havia sugerido "a suspensão das relações diplomáticas com o Vaticano enquanto na Igreja predominar um espírito totalitário".
Declarações que levaram o recém-nomeado cardeal Angel Sito Rossi a comentar: "Pode-se criticar dizendo o que se pensa e o que se deseja, mas a terminologia usada é inegavelmente emblemática da pessoa." A Santa Sé e o Papa nunca responderam a esses insultos. Pelo contrário, nos últimos dias, foi sugerido que o Papa não decidiria sobre sua viagem à Argentina com base no resultado das eleições.
No entanto, muitos leram, na entrevista de Bergoglio à Telam há um mês, uma referência, mesmo que não explícita, ao candidato argentino que agora é o presidente: "Às vezes, nos apegamos a milagres, a messias, a coisas que se resolvem de maneira messiânica. O Messias é apenas Aquele que nos salvou a todos. Os outros são todos palhaços messiânicos", disse o papa Francisco.
Enquanto isso, nos próximos dias, o Papa pode se encontrar com a vice-presidente demissionária, Cristina Kirchner, que estará na Itália para alguns eventos culturais. (ANSA).